BRILHA UMA NOVA LUZ NO INFINITO

Semana passada tomei conhecimento de que JOSÉ MOREIRA, o nosso “ZÉ MOREIRA”, uma das antigas pilastras desta cidade, havia partido do plano terra para  o infinito da vida eterna. E quando perguntei ao relojoeiro, que dividia o seu espaço com as instalações do serviço de som de MOREIRA, senti uma voz embargada em sua resposta e,  afinal, me disse que, em Goiânia, Moreira não resistira à cirurgia do coração.
Foi para mim um impacto que doeu e insistiu  doendo. E amarguei daí por diante uma odisseia ao encontro do seu corpo, até que no dia seguinte consegui encontrá-lo na capela mortuária da Igreja de São Francisco, no centro da cidade.  E, quiçá pelo capricho do destino, coube a mim, extra-família, dar um depoimento na televisão a respeito da vida do nosso ZÉ MOREIRA. A vida tem dessas encruzilhadas!
Cheguei em 1973 por aqui e conheci MOREIRA por volta de 1977 – então lá se vão 40 anos cravados. A bem da verdade eu não tinha maiores afinidades com o ZÉ MOREIRA, mas tratávamo-nos cordialmente quando nos encontrávamos. Conheci-o ainda no primeiro casamento,  nos tempos de RAMOS ELETRÔNICA, este RAMOS, um dos maiores cérebros que a eletrônica, em rádio, TV, repetidora, parabólica, transmissor – tudo que ele mesmo fazia e que por aqui  este chão já conheceu!!!
Moreira desligou-se de RAMOS ELETRÔMNICA, montou uma empresa de consertos e instalação de toca-fitas, a SERVITEL - em seguida montou um sistema de som  e publicidade; instalado no CALDAÇÃO e no MERCADINHO –  principais eixos do comércio varejista e atacadista, em Imperatriz. Até hoje sou cliente da SERVITEL, que pertence aos familiares de Zé Moreira.   MOREIRA foi,  também, soube depois, um dos pioneiros operadores de cinema, no Cine Muiraquitã e outros – numa época em que o cinema era como no dizer do comunicador  ALMIR SILVA,  uma “coqueluche da cidade”.
E sempre que me encontrava com MOREIRA era aquela conversa esticada sobre os vieses da comunicação. Por conta disso, recente, acabei por convidá-lo para conhecer um sistema de áudio – que é o meu Hobby e brincadeira de fim de semana. MOREIRA logo se interessou, queria associar-se e ganharmos dinheiro.  Foi a nossa última conversa à sombra do quintal temático da minha, casa ao lado dos equipamentos eletrônicos.
Hoje revendo velhas lembranças, eu revejo MOREIRA por inteiro; ouço a sua voz no seu sistema de som, tanto no Calçadão quando no Mercadinho; vejo o discípulo de RAMOS ELETRÔNICA. E no meu imaginário eu o revejo como operador de cinema e na vida real sempre medindo e contornando as palavras e os gestos em gentileza,  no seu vozerio de locutor padrão. Revejo-o em seu primeiro casamento, em sua segunda família e CONVENÇO-ME DE QUE ZÉ MOREIRA que viveu entre nós é uma estrela que brilha no infinito. E escrevo esta... PÁGINA DE SAUDADE. 

PARA LEMBRAR A CRÔNICA “PAI HERÓI” – QUE UM DIA ESCREVI

Corria os anos 80. E Imperatriz, como sempre um cavalo bravo. Naquela noite de festança e bebedeira e revólver na bolsa-capanga, aconteceu um incidente. Um grave incidente! O caso veio parar em nosso escritório, tornei-me o defensor. Posso dizer que do ponto de vista da defesa foi um trabalho vitorioso. O caso envolvia um pai de família. Enfim, um pai.
- Ambiente tenso, inseguro, o  Autor teve que capitular, cair no mundo, desaparecer. Antes, porém, foi despedir-se de um filho fora do casamento, um garoto de medianos cinco anos de idade, que  morava perto do nosso trabalho.  O encontro de despedida entre pai e filho,  em nosso escritório,  foi para mim, um momento dramático, entre pai e  filho.  O filho talvez nem tanto, mas o pai absorvendo todo aquele drama, aquele trauma, aquela dor. Os efeitos psicológicos. Mas ainda assim o filho, certamente, vivendo os seus percalços.  A despedidas foi curta e cada qual para o seu lado...
Na época eu–Viegas tinha o programa RÁDIO LIVRE, na Rádio Imperatriz, e apresentava a crônica O DRAMA NOSSO DE CADA DIA, que, ao lado de outros títulos, era o carro-chefe diário do programa. E como sempre o faço, toquei uma canção, o que de tudo mexeu muito com a minha emoção (e dos ouvintes).
E assim aquele pai, deixou  Imperatriz e partiu para o meio do mundo, em  lugar desconhecido, para nunca mais voltar por aqui. O filho ficou por aqui e ele que o vi pela primeira vez no encontro com o seu pai, naquela dramática situação, perdi-o de vista e deste nunca mais tive notícias. A vida segue a rota e o mundo a girar e eu,  sem mais nada disso esperar.
Recente, adentra o nosso escritório, um jovem advogado, também  para tratar de um assunto dramático, delicado. Foi quando me disse que ele era aquele garoto que foi ao meu escritório na despedida que teve para com o seu pai, quando então aos cinco anos de idade. Era agora, um jovem advogado.
Vejo o quanto o mundo dá voltas! Revejo todo aquele drama que envolveu o pai; revejo a despedida entre pai e filho; e ouço aquela canção que tocou naquela crônica O DRAMA NOSSO DE CADA DIA.  E agora,  construo e reconstruo para esta PÁGINA DE SAUDADE.