Texto que enviei para o programa PÁGINA DE SAUDADE, Mirante/AM São Luís, domingos, 07:45 hs, em cadeia com mais de vinte emissoras do Estado, na crônica PÁGINA DE SAIDADE.
Noite dessa quando dei por mim, qual um asteróide vagueando pelo espaço sem fim, eu me pegava vendo e vivendo, um velho tempo para esta PÁGINA DE SAUDADE. E então vi os carros de boi, cantando com a sua cantadeira, lentos, cansados, carregando cana e lenha do roçado. Vi aqueles tempos em questão de moça”, que iam parar na Delegacia. Vi minha avó que batia o algodão e fiava o seu fio e ouvi dos antigos torcendo o bigode firmando e cumprindo o trato.
Vi os bondes subindo e descendo e cruzando a cidade; senhores bem comportados, de chapéu, paletó e gravata. A molecada “driblando”, na mamata. Vi os bailes de máscaras e as mascaradas; Vi Maestro João Carlos tocando e cantando que “Cafeteira Prometeu e Cumpriu”. Vi a Cânhamo a Camboa, e a Fabril - com sua sirenes dando o horário da cidade. Vi quando o “areal” virou Monte Castelo e quando o “Cavaco” virou Fátima e João Paulo era o RÔDO. Vi as moças que ficavam por lá, Eu tava na João Lisboa quando Kennedy, na bala, caiu em Dallas; Vi Juscelino na Assembléia dizendo que “passou por baixo da mesa” o Projeto de Brasília.
Vi o jogo do bicho com sua “pules”, fazendo uma “fezinha”. Vi o abrigo novo na João Lisboa com suas abacatadas e bananadas. Vi as moças em laquê no cabelo, os homens com brilhantina Glostora e eu com aquele sabonete Eucalol. A mulherada de “Chanel”. Vi o perfume LANCASTER. Fui “lacasteiro”, de carteirinha, num tempo de calça de naicron, de Tergal, camisa de cambraia, “volta ao mundo” e “sandália japonesa” E radinho Play boy, no bolso – um charme de olho nas moças de azul e branco.
Vi o cine Éden na pompa, no raio-soçaite com seus bailes de Carnaval. Vi o ferro de Engomar e hoje só as ruínas por lá. Os casarios em mirante, sobrados e até hoje não sei e não entendo como se pode deixar uma riqueza estragar, acabar e até mesmo uma história se esculhambar. Vi a Paria Grande. Aquilo foi o chão das minhas pegadas – na ida e na volta de casa; aquilo me ardia como uma brasa; Praia Grande do meu pensamento, de todos aqueles momentos - até hoje a minha praia!
Vi Seu Merval no Liceu, os desfiles da minha Escola Técnica que paravam a cidade; ela mesma que no futebol dava um banho nos Maristas, no Liceu, na Academia, no São Luís, no Centro Caixeiral. E lá mesmo um ninho de águias “no subúrbio” Vi a Revolução de 64 e seus 20 anos de mandato. Vi o Cine Monte castelo quando abriu suas cancelas e lá Roberto Carlos em começo de carreira. Vi o Cine Passeio, no Canto da viração abrindo sua portaria. E lá perto a casa do notável Sarney, olhando o carnaval de ruas, Tribo de índio, fofão e bloco de sujos. E levando salpicos de água e maisena. Ao frio da noite ainda cedo, na Gonçalves dias, à beira-mar, eu ficava à espera da garota e o tempo custava passar.
Vi João do Vale cantando Carcará, Escurinho do Samba se pondo a cantar, vi as rádios Timbira, Difusora e Ribamar. Vi Roberto Miler numa mesa “entre espumas”. Vi Valdick Soriano malandro, safado e cachaceiro, dizendo “Eu não sou cachorro não”. Vi Bernardo Almeida com o seu DIFUSORA OPINA; VI a L B A, a VARIG, A PANER DO BRASIL, a Cruzeiro do SUL, A Real Aerovias. Vi, a Policlínica Santa Helena, perto da Casa Inglesa, vi Othelino com a sua Coluna “Na liça. a caminho d a Justiça”, ele mesmo que naquela tarde sábado tombou à bala na Rua de Nazaré, na João Lisboa.
Vi o Lítero, vi o Casino. Vi o Jaguarema este de passagem, do lado de fora. E vi que tudo voou pelos ares porque tudo na vida é um tempo. Vi o começo da TV CANAL-4, dos Bacelar. Eu vi Matos o Governador Carvalho, Vi Newton Belo, Vi La Roque, Nunes Freire, Moacir Neves dos quais ninguém ninguém fala mais. Porque a vida é “só até logo mais”. Eu ouvi sobre Ana Jansen e as lendas da boiúna da Lagoa da Jansen”. Eu vi o Moto Bar, o Hotel Ribamar, o Foto Mendonça, a Casa Waquim e as moças em saia justa e carmim.
Vi Bogéa alavancando a sua cria. Devo a Bogéa a gratidão dos espaços que me concedeu em seu Jornal Pequeno. Foi lá que comecei a trilhar. Vi Notato e seu Conjunto; Vi o homem do sorvete carregando na cabeça. Ouvi sobre o navio Maria Celeste virando fogo e espocando tambores; Vi o Delegado Pedro Santos com sua “Chiquita” deixando a molecada na correria e na grita, abandonando o peão, a “china” e a pipa.
Vi a amplificadoras lá em cima (João Paulo, Floresta, Lira, Fátima, Anil), com Bienvenido Granda, Miltinho, Silvinho, Nelson Gonçalves, e outros mais. Vi quando na Benedito Leite a mulherada na noite fazia “ponto”. E lá mesmo vendendo “Queijo de São Bento”. Vi a ULLEN (da energia); o DAES (da água), a Western (dos cabogramas); o correio (de cartas e telegramas). Eu vi o poder cair e foi ser chofer de praça. Eu vi tudo isso de graça!!!
Vi os bailinhos (festinhas) na Jovem Guarda em casa de Família. Eu também estava lá. E como era legal a gente pegar a garota, mão na mão, rosto colado e dançar. Camisa listrada, quadriculada, sapato sem meia, Lancaster e “cabeleira cheia”. Rosinha, Regina, Ivanilde, Euza, Sônia - eu também estava lá.
Vi Maroca na noite, na Zona, comandando festa. E o sexo diferente de hoje e nada de graça. E a macharada lá... cheia de amor pra dar... e a mulherada lá... doida para deitar... rolar e ganhar... Finalmente, “eu tava junto com os macacos na caverna / Eu bebi vinho com as mulheres na taberna / E quando a pedra despencou da ribanceira / Eu também quebrei a perna.” Eu só não fui, foi “leva e trás”, Sim, porque eu nasci HÁ DEZ MIL ANOS ATRÁS...
Edição Nº 15914
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