O ARATOÍ
Você já viu um aratoí? Conhece o aratoí? Tem ideias do que seja um AratoÍ? Se tiver resposta positiva, escreva à coluna, no endereço eletrônico abaixo  declinado. Eu ainda era um garoto, 5, 6, 7 anos de idade e, nas noites,  na casa do meu avô materno, à frente pouco ao lado do seu terreiro, eu costumava ouvir um canto solitário, “dissilábico” e monótono,  que hoje interpreto como triste e agourento. Era o canto do ARATOÍ. Jamais o vi “pessoalmente”. Era um tempo em que “criança não podia perguntar”. Então sufoquei em silêncio as minhas interrogações, durante toda a minha vida, sobre aquele “bicho”. E, nas minha contas lá se vão -  66, 67 anos!
O ARATOÍ – concluo agora, é uma ave rara, de hábitos noturnos, solitário, carnívoro,  da família da coruja, em visível extinção. É como imagino. Recente por razões que passo a declinar, interessei-me por “estudar”. Um tipo que se esconde em si mesmo.  Tentei entender um pouco sobre o ARATOÍ, contudo muito pouco ou quase nada sobre ele pude obter. E continuo vagando em busca do ARATOÍ.
Na internet, em dicionários, inclusive no meu infalível e “cinquentão” CAPA PRETA, nada encontrei sobre o ARATOÍ. Num voo rápido via celular, no entanto, ouvi pessoas contemporâneas do meu chão baixadeiro que me deram breves notícias sobre o bicho. Um deles declinou o lugar único e último que o ouviu faz seis meses. Nessas “pesquisas”, com a variação “ave canto noturno”, cheguei, também pela rara descrição, a uma ave  plenamente assemelhada: “Mãe da Lua”, que entra na composição da música ACAUÃ, de Luz Gonzaga:  “Toda noite no sertão / Canta o João Corta-Pau / A coruja, mãe da lua / A peitica e o bacurau”...
De sorte que, se alguém de vós que porventura me ler por aí, tiver alguma informação sobre o ARATOÍ, espero de braços abertos, por aqui!  E aguarde porque mais adiante, tem mais ARATOÍ!
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Recente, meu irmão Zé Branco e eu, tivemos a sorte e o destino de adquirir parte das terras do meu finado e velho Avô DOCA BARROS, justo na gleba, onde fora a sua morada. Divididas as terras em partes iguais, aos seus herdeiros, coube ao caçula Tio PEDRO DE DOCA, o quinhão correspondente ao chão de morada do seu pai, o velho Doca Barros, na condição do seu remanescente filho, herdeiro, posseiro e morador. Com a morte do Tio Pedro e os seus sucessores à distância, o local ficou relegado ao abandono, dele fazendo-se vez por outra, pequenas lavouras de aluguel a terceiros e, de resto só o capoeirão tomando de conta, sem jamais jogar por terra o feitiço que me enfeitiça, naquele lugar.
Mais recentemente, tantas vezes passei pelo local, justo onde fora a “tapera” do meu velho avô, e ali podia ver que uma “empuca de mato e cipó” tomava conta do local. De tapera, nada mais existia senão apenas três mangueiras centenárias, que instem em sobreviver no local. Doía-me ver aquilo em que o meu berço de origem viveu suas raízes. De passagem, por vezes parava, olhava mas no mato nem entrava. E me punha a relembrar passagens da minha infância que tantas vezes vivi ali. Então, afixei (eu mesmo) sobre árvores ali existentes, à beira do caminho,  quatro placas  metálicas: uma em homenagens ao meu avô, outra para a minha Avó, outra para o meu Tio Pedro de Doca e outra para o meu amantíssimo e eternamente pranteado Tio e Padrinho RAIMUNDO DE DOCA um amor que até hoje eu “converso” com ele.
Agora, com a compra daquele pedaço de chão, meu irmão Zé Branco e eu, estamos levantando o MEMORIAL DOCA BARROS, que consiste (ou consistirá), num pequeno sítio florestal, com pedra de memória; cobertura sextavada, em PVC (Vivenda Pedro de Doca)  dentro do mato (na beira do caminho), e... com uma pracinha temática, com banco estilizado e “cobertura em pérgulas”, para honrar a memória do meu pranteadíssimo Tio e PADRINHO Raimundo de Doca, além de dois portais em concreto armado, com formato em “arco gótico”, 3m. de largura X 2.70 de altura -  um para o meu Avô e outro para a minha Avó, cada um à lateral daquela curva angular  de 130 graus, à beira do caminho, no meio do mato com um vizinho a 700 metros e outro a 800 metros.
O MEMORIAL DOCA BARROS, dentro de um sítio florestal cercado em arame farpado,  será composto por placas brancas em “ato relevo”, letras azuis (plotadas em adesivo), com mensagens em “estilo cordel”, porque  leitura de cordel era uma satisfação do meu avô. E nas catorze placas que ali serão  assentadas, ali estarão reunidas as coisas e  os animais que compunham o acervo do velho DOCA BARROS, tais como: os seus cachorros de caça; o seu grito de caçador;  sua casa de farinha e sua eira (espécie de sequeiro de cereais e outros que tais); seu cavalo marchador,  seus paióis (milho, farinha peixe seco, café e arroz, seu limoeiro de tantos limões pelo chão, sua limeira de suas limas preferidas, suas lavouras em cafezal. feijoal, canavial e, em volta de sua casa, o seu sito, o seu LARANJAL. Tudo isso retratado em versos de cordel. E é bem aí, numa placa exclusiva que entra O ARATOÍ. 
Sim porque o ARATOÍ cantava solitário, à frente da casa do meu avô, com o seu canto tríplice e monótono  A-TÔ... A-TÔ... A-TÔ, que nas noites, ainda cedo,  despertava as minhas interrogações, num tempo em que “criança não podia interrogar”. E lá no sítio florestal, onde será erigido o Memorial DOCA BARROS, em meio a tudo o quanto ali pertenceu, vai estar a placa do ARATOÍ, com a seguinte inscrição: “Ficou também por aqui / Lembranças a mim e a ti / À noite e bem ali / O  canto do ARATOÍ
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Raul Seixas, na música de Paulo Coelho “OS NÚMEROS”, ao final do seu canto, com o vocal-gutural comprometido, ele diz: “... e quem souber que me conte outra...”