cada semana que passa e com ela as edições desta coluna - umas que vão ao ar, outras que não vão a nenhum lugar, vejo então que estes CAMINHOS se estreitam qual a água do rio que seca, qual a folha que cai; qual o filho que se vai e deixa a casa do pai e me convenço, enfim, de que a vida é princípio, meio e fim. E, porque a vida continua, repagino aqui textos que mandei para a minha crônica PÁGINA DE SAUDADE, Rádio Mirante AM, domingos, 07:45, Programa CLUBE DA SAUDADE.
O CARNAVAL ERA NO SESI
Naquele meu tempo colegial, era uma festa só, no tempo do carnaval. Lembro-me dos bailes de carnaval, das tribos de índios – apaches, Comanches, Sioux. Havia também o “Corso” em que as participes de vestidos alegres e iguais, na carroceria enfeitada de um caminhão, cantarolavam e tilintavam um pandeirinho de plástico.
Nos bailes de carnaval que se chamavam de “assaltos carnavalescos”, mulheres mascaradas e a tentação era conceder levantar a máscara! Casadas, solteiras, viúvas, divorciadas, mal-amadas e abandonadas. E todo mundo na gandaia! Pierrôs e colombinas eram personagens do carnaval. Era um tempo de confete e serpentina nas festas de salão. Jogavam-se talco e água colorada sobre as multidões, nas ruas, quando das passagens dos blocos e outros grupos.
A “CASINHA DA ROÇA” despertava a atenção das multidões. E o Fofão? “O-lalá, ô-lalá”. O fofão era um personagem do Zé, do Mané, do Migué que compunham o carnaval. Três, quatro, cinco pingas no juízo, uma bonequinha como “amuleto” em busca de um trocado, perna pra cima, braços abertos e... ô-lá-lá... ... ô-lá-lá. A garotada se divertia!
Nas noites, o ingresso que se chamava “convite”, nos clubes, era uma batalha. Lítero, Casino, Clube dos Sargentos e Subtenente da PM, União de Moradores, passei por lá, tudo. Mas o carnaval da minha paixão mesmo era no SESI. O clube do SESI que ficava no antigo casario de assoalho, ali no setor da Fabril, ao lado do campo do Moto Club, e realizava bailes em programados finais de semana, bem como durante a temporada de CARNAVAL.
Eu não era associado, nem tinha carteira do clube, mas era um “PENETRA”. Dava um jeitinho daqui, outro dali – uma maratoooooona e entrava no baile. Até que um dia descobri um canal, através de um ex-professor que me conseguiu um carteira “PERMANENTE”. Aí o SESI, para mim, virou um festa só!!! Hei tempão!!!
Detalhe que não esqueço: No SESI tinha um negão da DIRETORIA que frequentava o clube acompanhado da esposa: uma loura. A função do negão era fiscalizar a rapaziada para controlar desrespeito e “excessos” na dança colada. Aí uns e outros, sem saber que ali era uma casa de marimbondo, vinham convidar a loura para a dança. O negão virava uma fera!
Foi lá que conheci uma moça que frequentava o clube, junto com seus irmãos. Fiz um sinal de “positivo” e ela confirmou. Lembra? E nos finais das festas, lá pelas duas da madrugada, lá vou eu, em companhia da moça cortando a Fabril, rumo ao Retiro Natal, ao sabor da brisa que vinha do Atlântico, da Baía de São Marcos, untando a ilha-capital.
Hoje eu lembro com saudade daqueles anos dourados: Fofão, bloco de sujo, corso, tribos de índios, pierrô, colombina, confete, serpentina. Lembro daqueles porres de rodó dos outros, na ponta da camisa que deixava a gente doidão! Lembro do talco e do esguicho de água colorada, que jogavam sobre as pessoas. E tudo era carnaval! Lembro daquele PERMANENTE e das festas do SESI e daquele vigilante que controlava a rapaziada nos “colados”. E faço dessas lembranças, esta PÁGINA DE SAUDADE.
O CADERNO, A LETRA E A DONA DO CADERNO
Foi naquele meu Grupo escolar primário que passei a ter uma certa intimidade com os cadernos Nº 1, Nº 2 e Nº 3. Cadernos de desenho, Caderno de Caligrafia, Cadernos de oito folhas. O caderno de caligrafia era um estímulo à boa escrita (letra aperfeiçoada, bonita). Lembra do caderno de caligrafia???
Quando ingressei no ginásio, os cadernos, em brochura já eram de 12, 24 e até de 36 páginas. Haviam, também, cadernos em espiral, em meio aos mais abastados. E quando ingressei, lá pelos 16 anos, nos Cursos Técnico e Científico, o caderno passou a me despertar mais atenção, principalmente os caderno das garotas, um verdadeiro fetiche, uma inesgotável fonte para os meneios do namoro e sedução.
O caderno da garota era uma fonte que despertava provocações, anseios, emoções, tentações. Aquela letra bonita (vinda do caderno de caligrafia; vinda também da professora normalista, aquilo era uma central que despertava paixões). Conheço um cara que se amarrava numa garota a partir da letra bonita!
Pois é, livros e cadernos! Cadernos às vezes de duas e até três matérias. Cadernos que eram escritos e preenchidos com as matérias escolares. Cadernos que se prestavam à sua missão. Livros e cadernos que rapazes e moças conduziam debaixo do braço. E quando o rapaz pedia licença e conduzia os cadernos da moça, era um sentimento de posse. Sim porque um dia o Vinícius disse que “o amor é um sentimento de posse”.
Velhos tempos aqueles tempos em que a gente folheava e curtia o caderno da garota e a garota do caderno. Aquela letra bonita aos nossos olhos e sensual para a nossa alma. Difícil era devolver o caderno no qual, por vezes, deixávamos a nossa assinatura, a nossa marca! Era como se a gente quisesse comer o caderno, quer dizer... a dona do caderno! Ela que nos disse tantas vezes: “toda tua”.
Noite dessas quando eu me lembrava daquele meu tempo colegial-primário, eu lembrava daqueles inocentes cadernos de oito folhas: caderno nº 1, nº 2, nº 3, caderno de desenho e caligrafia. Mais tarde, 17, 18, 20 anos, eu lembrava daqueles cadernos da moça bonita, da letra bonita que a gente carregava no braço, como se quisesse ser dono do caderno, quer dizer, da dona do caderno, num verdadeiro sentimento de posse. É como relembro com saudade desta velha... PÁGINA DE SAUDADE!
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