“VIDA REAL”

O fato é recente. Era noite. Eu estava na minha terra natal, na Baixada do Estado. Um vizinho de nome JUAREZ me pede para, em companhia de dois outros, ir buscar uma “carrada” de leite, junto a pequenas fazendas da região. Estranhei, afinal naquelas terras não tem nem pequenas fazendas, muito  menos leite para uma “carrada” e, de resto, para absolutamente nada. E colocou sua camioneta S-10 preta à disposição do serviço.

O veículo era dividido em duas partes: a parte do motor e cabine e outra parte em carroceria que era puxada por uma corda. A princípio também estranhei, mas logo pude ver que a tal camioneta era perfeitamente trafegável. Os dois “companheiros” logo disseram que iriam me esperar na “rodovia BR”, com a indicação de que ficaria ali bem próximo, algo como a um quilômetro.

Na direção da S-10, negra, logo perdi a picada, a rota da estradinha na noite escura, num momento em que estava debaixo de um grande mangal ali existente. Naquelas circunstâncias, aquele grande mangal me permitiu imaginar que ali fora um pequeno povoado, mas depois a mente me aconselhou que teria sido apenas duas casas de pai e filho, mas ainda assim muitas mangueiras, um tanto esparsas, em uma área razoável.

Depois de rodar na camioneta por debaixo daquele mangal, sem encontrar a saída  para a “Rodovia BR”, logo comecei a entender que estava perdido. Parei, deixei a camioneta S-10 estacionada em algum lugar e saí gritando desordenadamente, pelos “companheiros”, pedindo socorro e declarando-me  perdido. A certa altura, sempre debaixo do mangal, percebi que um pouco adiante de um matagal que ali fazia divisa, ouvia fala de gente e latidos de cães. Mesmo com os meus gritos intensivos ninguém me respondeu, também não obtive socorro.

Caía uma chuva fina e eu cada vez mais desesperado, agora à procura da camioneta S-10 que não sabia onde deixei. Imaginei então que se não tivesse me afastado do carro, agora teria onde me proteger da chuva e onde pernoitar. A situação era cada vez mais aterradora. Andando a esmo, em lugar ermo, perdido e volta e meia pedindo por socorro, no escuro, na noite, percebi que toquei na parte traseira de um automóvel que me permiti imaginar tenha ali reconhecido o modelo do veículo. Só isso.

Segui em direção à frente do veículo ali estacionado e pelo rápido clarão de um relâmpago cortando a noite, percebi que dento do veículo havia um casal. Fiquei desesperado. Logo pensei que eles poderiam imaginar que eu seria um assaltante. Como ato de defesa gritei pelo meu nome e me identifiquei por completo repetidas vezes, no intuito de aliviar o ambiente tenso que pesava sobre a minha mente e à esperança de que o casal me desse algum apoio. Os dois, contudo, permaneciam inertes e indiferentes. Daí a instantes saíram ambos de dentro do carro, cada qual com toalha passada, ele na frente, ela atrás, dando-me as costas, cada qual com uma “roçadeira” ao ombro, que também se chama foice. Sem, contudo, dizer uma única palavra.

Logo ali, lembrei-me de um caso que patrocinei, faz anos, em que o enteado matou o padrasto decepando-lhe o pescoço com um golpe único de uma roçadeira, num instante, em meio a uma breve discussão entre ambos. Aí o meu pavor atingiu o grau máximo na “Escala Richter”, que é a escala que mede a intensidade dos vulcões. Continuei perdido. Nesse passo uma senhora de mediana estatura, calada, carregando uma criança nos braços, também sem dizer uma única palavra. Perguntei-lhe se conhecia JUAREZ, ela confirmou brevemente. Pedi-lhe socorro. Disse que estava perdido, mas ela seguiu indiferente, igualmente dando-me as costas.

Instantes depois, vejo que pouco mais adiante, numa baixada (lá embaixo), algo como uma camioneta foi ligada e acesos os faróis. Aí eu pensei: estou a salvo! Encontrei a saída! E ainda pude ver lá na baixada, na distância, carros em movimento na rodovia-BR. Mas daí a instantes desligou-se o carro, e tudo ficou no escuro e tudo voltou a estaca zero, na noite negra e chuvosa, debaixo daquele mangal. E constatei, finalmente, que a situação estava sem controle. Aí eu gritava alucinadamente pedindo socorro até que... até que... finalmente... ACORDEI. Eu estava vivendo um terrível PESADELO. i-language:AR-SA'>Até a próxima.