TALENTO E JOGO DE BOLA DE MEIA
Certa feita, nas minhas inquietudes e em tom de irresignação, perguntei a Deus: Deus, qual foi o talento que Vós me destes? Não sei cantar, não sei tocar nenhum instrumento, não sei jogar bola, não sei nem assoviar! Cursei mecânica e não sei apertar um parafuso. Estudei desenho técnico e mal faço uma linha reta com o auxílio de uma régua... E segui a minha rotina sem esperar a resposta de Deus, imaginando que a minha pergunta fora feita ao desvão do nada.
Daí a pouco, tive a sensação de que Deus, em tom paterno e cordial, sem qualquer gesto de severidade, pegou-me pela orelha, puxou só um pouco e disse em tom pausado: “Então não vês o talento que te dei e que te dou? Tu escreves fácil, basta ter a ideia e tens o dom de “multiplicar os pães” que são os argumentos, o raciocínio e as teses nas tuas escritas. E então não vês o dom que te dei e te dou?
E então caí prostrado e genuflexo ao chão, pedi perdão a Deus e agradeci pelo talento, numa oportunidade em que ali abria os olhos e a consciência para rever o quanto pelas mãos e obra e misericórdia e graça de Deus – ainda que sem nenhum merecimento pessoal eu me fazia portador da GRAÇA DIVINA, do domda escrita. Digo assim sem qualquer pretensão de exaltação ou de soberba, mas de agradecimento ao SENHOR.
E bem aí eu parei para refletir e reconhecer. Graças à escrita, galguei o primeiro emprego no seletivo de uma repartição Federal; o segundo emprego num banco; o terceiro emprego por concurso público numa instituição federal. Dispensei o concurso da CAIXA e daí por diante tantas outras oportunidades que me surgiram através da escrita. Assim foi o concurso para Oficial PM, que pedi dispensa; o vestibular para o curso de Direito e tantas outras incursões. Depois vieram as minhas redações para as emissoras de rádio, os jornais e as TVs, até. E então não é uma dádiva? Uma graça? Um talento inexplicável que Deus me deu e continua me dando?
A propósito disso, devo dizer que escrevo para jornais desde os 21 anos. Estou aos 71, faz meio século! Um dia fiquei “emburrado” com o jornal aqui e parei de escrever. E fiquei parado por uns seis ou oito anos. Certa feita, depois de ler sobre a “parábola dos talentos” de que trata a Bíblia Sagrada em Mateus 25,14-30, eu vi que estava enterrando os meus talentos; vi que não era justo soterrar uma dádiva que Deus tão generosamente me houvera concedido e eu, servo mau, ao desatino, insistia por enterrar.
Em sendo assim, no quesito “jornal” desenterrei o talento que Deus me deu e... voltei a escrever. Acho que estou com esta coluna cativa e até há pouco ininterrupta faz creio que mais de dez anos. Na Rádio Imperatriz fiquei por 12 ou 14 anos. Só na Rádio Mirante tenho quase dez anos com a crônica semanal “Página de Saudade”, além de passagens pela Rádio Educadora (São Luís), Rádio Timbira; Jornal do Maranhão (Igreja católica) Rádio Gurupi, Jornal Cidade de Pinheiro, TV SBT local, Rádio Nativa, TV BAND (estes de curtas e médias passagens), bem como JORNAL PEQUENO, meu berço de oportunidades e aprendizagem e senhor de todos os IBOPE’s, onde estive aleatório por uns sete anos em que materializei o codinome CLEVIEGAS.
A fora isso, em termos de “talento” e “escrita”, faz 43 anos que escrevo para juízes, desembargadores, promotores, advogados, ministros, autoridades “monocratas” e órgão judiciais colegiados em pleitos que vão de petições, recursos, agravos, apelações, habes corpus, mandado de segurança e outros da mesma eiva e da mesma seiva, todos frutos do talento que Deus de me deu, via dos quais ganho o trabalho e a vida e as “portas e janelas” da vida. E então, por vezes digo aos meus pares que “ganho a vida fazendo cartas”. É o talento que Deus me deu e continua me dando, como graça de sua infinita misericórdia. Amém!!!
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E a bola? E o cântico, e o instrumento (musical)?, em que reclamei a Deus porque não me dera talento? O que foi feito deles? No canto não dei pra nada, não cheguei a lugar nenhum, mas desenvolvi uma técnica de “cantar” as “mutchatchas” que me apeteceram ou que comigo se embeveceram. Tem dado para o gasto, com fartura. E no instrumento musical? Tentei aprender a tocar trompete, por partitura mas, como já vinha de uma experiência com a corneta do tempo colegial, esta prejudicou aquele. Não deu em nada.
Na corneta, porém, fui mais longe. Por tantas vezes fui o “corneteiro do dia” no meu tempo de internato, com a missão de executar o “toque militar da alvorada”, para despertar todo o internato, além de outros como a “catita” para as refeições (café almoço e jantar), bem como aquele triste toque de SILÊNCIO às dez da noite para o recolhimento e o pleno silêncio e dali em diante nem mais um arrastar de chinelo.
No futebol de salão, assim como no basquete e no voleibol, quando eu não estava lá em cima  na arquibancada de cara para o sol, eu poderia ser encontrado lá atrás, do lado de fora da quadra, à espreita da bola para devolvê-la ao jogo. Foi assim o meu “talento” em termos de “jogo de bola”! Mas não é bem assim, porque... o JOGO DE BOLA DE MEIA salvou a minha pele. E, nas minhas reflexões diante do meu Deus, bem ali eu vi o meu “talento”!
É que nos jogos de bola de meia eu fui tão craque que... por vezes perdi o almoço em dias de sábado, de tão envolvido que estava! E lá vai pontapé na bola daqui pra e lá vem pontapé na bola de lá pra cá. No jogo de bola de meia - ágil, ligeiro e sagaz, eu me se sentia um gato! Um guiné! Dava saltos espetaculares e ia buscar a bola onde estivesse e caía espetacularmente ao chão de areia ou capim, despertando os “encantos” da plateia. E, qual uma ÁGUIA, dava voos rasantes e ia segurar a bola nos ares, no ângulo ou onde estivesse. Ousado, cheguei a sonhar em ser o “goleiro da minha escola”, mas tudo não passou de um sonho... de um pobre, de terceira e coitado e proscrito JOGO DE BOLA DE MEIA.  Tudo porém, que hoje eu os inventario no... TALENTO QUE DE MEU. Obrigado Senhor!Muito Obrigado pelos meus talentos, pela higidez material e mental e pelo quinhão espiritual a que Vós me destes e me dá.  Amém!