Convidado, apresento uma crônica no noticioso JORNAL DOS JORNAIS, na Rádio Cidade Esperança/AM (ex-Rádio Imperatriz), à terças e sextas-feiras, sempre às oito horas: ... E A VIDA CONTINUA! Vejamos!
REFLEXÃO EM DIA DE FINADOS
Quarta-feira passada, feriado nacional – uma homenagem e respeito à memória dos nossos mortos. Enfim, 2 de novembro, DIA DE FINADOS! Observo, ao longo do tempo, uma hipocrisia nacional sem precedentes, com essa titulação do dia de finados. Os cemitérios de todos os cantos são terrenos naturalmente evitados e esquecidos, mas quando chegam as vésperas dia de finados, a prefeitura capina o terreno (o mato crescido), caia os muros e os familiares caiam - pintam e lavam os sepulcros dos seus mortos. E o que tanto fizeram o ano inteiro, a vida toda em atenção aos sepulcros e cemitérios?
E até nos cemitérios é visível a barreira social que separa as pessoas – umas com maior, outras com nenhum poder econômico. Os pobres, geralmente, são separados escondidos, afastados, perdidos dentro dos cemitérios; ao passo que os lugares frontais, centrais, privilegiados, são adquiridos por pessoas com maior poder aquisitivo. E até no cemitério são visíveis o centro e a periferia; as mansões e os barracos – a mesa farta de uns e o “bandeco” de outros.
E as sepulturas, os sepulcros? É notório o poder econômico que ali se estabelece. São carneiras com retratos, mensagens, revestimento em granito. Sofisticadas. Tantas feitas para o confronto e a exibição de alguém ou de uma família que expressou ou expressa um fator financeiro privilegiado. E assim uns que podem tudo, que exibem uma sepultura fabulosa, sofisticada - outros, coitados, que não podem nada, que mal deram conta de chegar lá. E olhe lá!
Sempre que vou ao cemitério por conta da companhia à minha esposa, costumo caminhar pela extensão do local; ver os retratos e ler as lápides. Vejo que os cemitérios são lugares de tristeza e frustração, lamento e dores, mas a palavra de Deus nos ensina que a morte abre o caminho para a morada eterna. E que devemos nos alegrar com essa passagem e nunca buscar o sofrimento, a tristeza, angústia.
A dor no cemitério se aponta a cada cristão vivo, ali existente. Certo dia, penitente que amargava a dor diante da perda do filho, fazia dois anos. Caminhava distância a pé ao sol escaldante porque não tinha o dinheiro do mototáxi e chorava por seu filho, sozinha, à indiferença do marido separado. Agora mais recente, vejo outro quadro: pai e mãe diante do sepulcro milionário da filha, uma jovem, pela foto, com ares de curso de faculdade. A mãe, em silêncio, derretia-se em suas lágrimas e o pai mudo, demonstrava no rosto, ao lado da esposa e frente ao sepulcro da filha, uma visível angústia, contorcia-se em seu sofrimento.
E então pude refletir que a morte não faz distinção entre ricos ou pobres; entre jovens e velhos entre poderosos ou miseráveis, entre santos e pecadores e que todos, todos, todos teremos um ponto final na trajetória desta vida. Mas... enquanto isso, enquanto há céu e sol, enquanto há respiração e transpiração, enquanto há fé e esperança por aqui... A VIDA CONTINUA...
O MAL FEITO NÃO TEM DONO
(como diria meu velho avô)
Tenho uma admiração antiga pelo meu falecido avô. Acho que ele leu somente até a CARTILHA. Devia saber escrever e nunca o vi fazendo contas. Gostava de leituras em romances de cordel, que se deliciava lendo para os demais. Meu avô era alto, corpulento, fala de sotaque, pausada. Forte nas suas reprimendas.
Meu avô era um trabalhador obstinado. Trabalhava para o prato, para o bucho. Tinha um sítio de laranjal, um cafezal, um feijoal, um milharal, um arrozal, uma roça de canavial. E juntava em seus depósitos quantidades de feijão, farinha, milho, arroz, peixe seco e tudo o mais. Comprazia-se em sua mesa farta, produzida por sua mulher, minha avó – JULIANA, a quem chamava carinhosamente de JULICA.
Meu avô viveu à beira de casa, era também caçador (caçava pra comer) e mascava fumo. Vítima de um derrame cerebral, ficou 12 anos no fundo de uma rede, com dificuldades de locomoção, ajudado por alguns em sua volta. Mas nunca reclamou da sorte. Nunca clamou contra seu Deus, nem lamuriou. Era assim o meu avô – DOCA BARROS. Velho doca, na minha cabeça, era um sábio, um mestre, um bem-aventurado. Dizia coisas que eu guardo na memória e sei de cor. Nos meus tempos de rádio Imperatriz eu falava da pessoa e das coisas que o meu avô falava e sentia o brilho no olhar das pessoas. Por isso e por tudo o mais, o meu avô tornou-se um PONTO DE REFERÊNCA NA MINHA VIDA, como até hoje. Até hoje!
Das coisas que o meu avô dizia, uma delas rezava: “O MAL FEITO NÃO TEM DONO”. A gente já via o exemplo em meio aos meus irmãos e primos que nunca assumiam o mal feito a que faziam; que todos se diziam inocentes; que ninguém era culpado. E haja mentira por sobre mentira. E o meu avô repetia: O MALFEITO NÃO TEM DONO! O mundo deu voltas, tornei-me o dono do meu nariz e passei a ver o quanto ladrões, assaltantes, traficantes, homicidas, estupradores e outros facínoras negam enfaticamente seus crimes. E ainda que passem dez, quinze, vinte anos na penitenciária, dizem-se INOCENTES. É aí que vem a lição do meu avô; “o mal feito não tem dono”.
Agora eu vejo a operação lava-jato, trabalhando a ladroeira que corrói, estraga, desmoraliza e desgraça este país. São deputados, senadores, governadores, ministros, assessores, Chefes, diretores, todos envolvidos com a roubalheira bilionária que assola esta nação. Mas todos se dizem inocentes, todos dizem que não tem culpa, que não conhecem, que são sabe de nada, que nunca viram, que a justiça Eleitoral aprovou suas . E juram de pés juntos! E a delação negociada, dando de pau! Mas é como diria o meu velho avô DOCA BARROS, um homem que mascava fumo e que passou 12 anos no fundo da rede: O MAL FEITO NÃO TEM DONO. Eu olho para tudo isso inconformado, mas tenho um alento: ... É QUE A VIDA CONTINUA.
Edição Nº 15755
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