TUDO NA VIDA É UM TEMPO
Volta e meia eu prego a frase e o exemplo.  Aliás que os exemplos estão aí, claros, a céu aberto. Assim são os astros e as estrelas dos palcos, do cinema, do disco e da TV, dos estádios, dos grandes auditórios e de tudo enfim. Tem vozes e talento que se derramam, se espalham pelos quatro cantos do mundo. Magnetizam e enfeitiçam plateias que vão ao delírio, à loucura. Vão... vão... e, qual uma nuvem passageira, desfazem-se, espraiam-se, desaparecem. Chega a ser incrível como aquele “tesouro” vai ao pó, à insignificância, ao nada. Está escrito que “do pó viemos e ao pó voltaremos”. Sim, porque tudo na vida é um tempo.
Dia desses eu folheava na internet e me punha ver nomes de alcance global nas artes, na intelectualidade, na cultura, no cinema, nos esportes em passagens incandescentes e multimilionárias com o mundo aos pés e o encanto boquiaberto dos súditos cá em baixo. De imaginar que aquela estrela seria eterna, que aquela luz seria para sempre, que aquele pedestal seria infinito. Hoje olha-se pra trás, como no retrovisor e na poeira do velho caminhão e vê-se que tudo é igual a nada e que nada é igual a nada. É a vida, é o tempo e porque tudo na vida é um tempo!!!
E os nossos colegas? Nossos amigos de um tempo? Gente a quem nos abraçamos e que nos abraçaram. Que nossas confidências nos despertaram. Com quem fizemos correntes que se quebraram. Pessoas com as quais dividimos sem medo o nosso segredo; a quem nos abrimos em confissão, que expomos o nosso mundo, a nossa vida, as nossas tentações. Depois, como que num riacho quase seco sem água e abandonado, como num caminho deserto, perdido e esquecido, tudo vai desaparecendo, se acaba e não dá em nada. Eis o tempo, eis a vida – porque tudo na vida é um tempo.
E os nossos amores? Eis então uma eterna passagem! Pessoas com as quais tantas vezes e muitas vezes deitamos e rolamos, nos dividimos e nos misturamos. E dividimos o prato, a cama e a mesa e a água do banho. Dividimos o barulho e o silêncio; dividimos o ar da respiração, sussurros da transpiração. E no estradão da vida tocamos sem medo de ser feliz. E assim múltiplos trezentos e sessenta e cinco dias do ano, na vida a dois, fizemos de tudo. Sorrimos, zangamos, brigamos, amamos, escondemos, confessamos. Outros tantos em que vieram alegrias, problemas, intrigas. Também vieram filhos e netos, vieram satisfações, contentamentos e decepções,  dores, mágoas e frustrações.
Hoje a gente para no tempo, e olha para essa vida, para essa “bola dividida” e lembra daquele tempo e de doces frases do enlace a dois: “meu amor”, “eu te amo”, “eu te adoro”, “toda tua”, “eternamente tua”. É bem aí quando a gente vê o olho da vida e o olho da rua. E vê aquela criatura que um dia esteve com a gente tão inteira e toda nua. Agora, qual uma gaivota  voa pelos ares ou mesmo com uma tábua  boiando e perdida nos mares. É a sombra que nos assombra. É o grito, o sufoco na garganta, são essas lembranças tantas. Eis o tempo, eis a vida!!!
Nossos mestres, nossos vizinhos, colegas de trabalho, de profissão, conhecidos com que cruzávamos num bom dia, boa tarde, e até a namoradinha do amigo meu e até aquele vizinha da esquina que a gente se olhava com cara e vontade de... advinha!, até parece faz lembrar aquele cara em que a gente  sentou ao mesmo lado no ônibus e quando um desceu na parada e o outro se foi na estrada e agente só disse “tchau”, até logo e mais nada. E ainda assim, de cara virada. Hei vida!!! Tudo na vida é uma passagem, é só um tempo...
E nas festas? Na festa é que é! Todo mundo bacana, vestido nos panos, sapato nos trinques, dinheiro no bolso, carrão estacionado, poder financeiro ali disposto e proposto.  Mesa redonda, tolha  de linho,  só coisa fina. E tudo granfino. Papo sadio,  tudo ó-quê!. Tanto o hálito quando o hábito está ó-quê! Gestos largos, conversas com os amigos, volta e meia celular ao ouvido. Comida, bebida, cerveja, uísque, queijinhos e outros petiscos. Aí quando dá uma hora, duas horas ou você vai embora ou a festa se caba. Por vezes tem até uma virada. Mas aí, quando a festa se acaba é cada  qual para o seu lado. Até parece que naquela ressaca, uma depressão toma de conta. Porque aquelas luzes multicores se apagaram, as portas se fecharam, as conversas se encerraram e as pessoas desapareceram - cada qual para o seu lado. Essa é a vida e esse é o tempo. E a certeza de tudo na vida é um tempo. Só um tempo!
E o poder? Esse é um bicho! Um bicho que não se entrega mas que está sempre se entregando. Os poderosos costumam pensar que o poder qual o dinheiro é para a vida inteira, para todo o tempo. Que lá nada! É só por uma temporada, por um tempo! Outros que passam por cima e pisam sobre os vassalos Estão aí os milicos, os engravatados,  o executivo, o legislativo e o judiciário. Muita pompa, muita redoma, sim senhor, não senhor. Tapinhas nas costas e sorriso doce e gestos leves que é para azeitar, para melhor se passar. E se vossa excelência um dia vier a “espirrar”, já vou, antecipando,  desejando saúde, para o vosso bem-estar. É aí onde os vassalos se entregam genuflexos e vencidos, em decúbito dorsal. Mas depois tudo isso passa, como passa a nuvem, a poeira, os sonhos as fantasias da nossa vida. Sim, porque tudo na vida é um tempo. Só um tempo!
(Este texto eu fiz assim... do nada. Fiz sem intenção, sem querer, sem pensar. Fui digitando... digitando... e deu no que deu. É só isso).