Fiz um texto e dei o título: “Tudo Na Vida é Um Tempo”. Tema concluído, faltava só “lapidar”. Nesse meio de caminho, pensei em mudar o título para “Princípio, Meio e Fim”. No momento da “lapidação”, no entanto, desisti (temporário) da publicação. Vejamos um parágrafo: Dia desses eu folheava na internet e me punha ver nomes de fôlego nas artes, na intelectualidade, na cultura, no cinema, na TV, no esporte e no dinheiro, em passagens incandescentes, sensacionais e “multimiliardá-rias” com o mundo aos pés e o encanto genuflexo dos vassalos. Seria de imaginar que aquela estrela seria eterna, que aquela luz seria para sempre, que aquele pedestal seria infinito. Hoje olha-se para trás, como no retrovisor e na poeira do caminhão e vê-se que o tempo passou,que tudo aquilo passou, que tudo é igual a nada e que nada é igual a nada. É a vida, é o tempo e porque tudo na vida é um tempo! Ou... porque tudo na vida é princípio, meio e fim.
Nessa indecisão, publico aqui temas que enviei para a minha crônica PÁGINA DE SAUDADE, Rádio Mirante/AM, domingos, oito da manhã, programa: Clube da Saudade.
UM SANTUÁRIO DE SAUDADES NOS MEUS DISCOS DE VINIL
Era o último final de semana e me deu na telha de organizar a minha estante em que guardo velhos rádios, DVDs, radiolas, caixas de som e outras saudades. Parte delas em puras sucata mas para mim, uma lembrança, uma marca, uma história. Trajetória da minha vida.
Nessa arrumação logo bato de cara com um radiola-gradiente, quatro em um, bonita, com cara de nova que quase não fiz uso por considerá-la um objeto pouca qualidade. Mas agora à falta de outras que outrora me tocaram – objetos extintos e fora de mercado, descobri que aqueeeela radiola - aquele patinho feio, muitos anos sem uso, convertia-se (e converte-se) em um belo cisne. E então, “descobri a América”!!!
Dei um pulo, fui ao meu velho acervo discotecário peguei uma pilha de discos – igualmente empoeirados, desleixados e abandonados, flanela na mão e.. dei um grau. E pus a tocar! Era sábado à tarde, entrei pela noite. No dia seguinte (domingo feliz), lá estava eu vendo, revendo e revivendo; tocando e ouvindo aqueles meus surrados... ralados e abandonados discos de vinil.
- Foi aí que “caí de quatro”. Lá estavam como estão, lembranças, história e trajetória da minha vida. Coisas da Memória! Em cada canção me lembra um momento, outras que revelam sentimento, tantas que ficaram ao esquecimento e todas elas me trazendo um alento. Vi então que ali estão os meus LIVROS DE SAUDADE, um santuário de saudade, em taaaaantas PÁGINAS DE SAUDADE!!!...
- Pude ver que um pedaço, uma banda da minha vida (se é que assim posso dizer), estão documentados, arquivados e registrados naqueles meus discos de vinil. Discos que me trazem de volta aos tempos da minha juventude, dos meus cabelos negros, do rosto sem marcas - ora na timidez, ora na intrepidez; do meu trabalho e diletantismo no rádio. Discos e canções que me fazem relembrar velhos sonhos, vãs aspirações. Belos dias, num tempo em que eu era feliz... e não sabia.
- Agora, revendo e ouvindo os meus velhos discos de vinil, vejo o quanto ali se escreve se desenha e se entoa em mim um documentário, um compêndio, um SANTUÁRIO de minhas SAUDADES, com tantas... e tantas... e tantas... PÁGINAS DE SAUDADE.
MANGUEIRA...
Por vezes me ponho a pensar sobre O DOM DA CRIAÇÃO que se revela nesse “ser humano” que somos todos nós. E assim, singrando nos desvão do pensamento, vou esbarrar na engenharia da memória – na construção das nossas lembranças, das saudades que tecemos no pensamento, compondo esse tecido, tecido, esse ente que enfim somos a gente.
A primeira casa da minha criancice, em terra alheia, naqueles rincões de meio do mato (e meio do mundo), havia ao seu entorno, algo como um antigo sítio frutífero do qual a gente não se tocava nem da beleza nem da riqueza, nem da nobreza que ela representava. Ao lado direito da nossa casa havia um “mangal” mas o que me destacava ali era uma antiga mangueira de MANGA CAJÁ que situava-se à beira do caminho, irrompendo e fazendo sombra ao terreiro daquela nossa casa de taipa e palha.
Um vez, duas vezes, escrevi sobre essa mangueira. Sobre as lembranças que essa-mangueira me despertava; sobre o sentimento que nutria por ela, sobre a distância de tempo e espaço que nos separava. E publiquei no rádio. dediquei-lhe canções. E, da última vez, era uma feeeesta que se lhe fazia próximo a um breve encontro que então tanto ansiava. Encontro que, enfim, ao que me lembro, não aconteceu. Daí em diante caímos no esquecimento e, como sempre... cada qual para o seu lado.
Hoje, o caminho que levava a essa mangueira quase já não existe mais. Os pequenos lugarejos - Sertãozinho, Baixa da Folha, Carro Virô - que antes ali faziam passagem, hoje também não mais existem. Eis o tempo! Eis a vida! Hoje essa mangueira da minha criancice, qual o caminho que a ela levava, hoje acho que nem existe mais!
E qual um nordestino em terra alheia que anseia rever o chão que ficou distante e para trás, assim sou eu: na expectativa de rever ainda que seja o lugar, aquele pedacinho de chão daquela mangueira – MANGUEIRA DE MANGA CAJÁ – que um dia foi o palco das minhas vadiações e tentações, para depois – só depois - compor o livro das minhas inspirações e que agora... mais uma vez... revela-se nesta... PÁGINA DE SAUDADE!!!
Edição Nº 15469
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