... VÍRGULA, QUASE  TODOS
Tenho setenta cravados e o Criador tem me permitido até aqui realizar todos os meus “sonhos” e ideais. VírguLa, quase todos. Tenho a capacidade de imaginar certas ideias que tantas vezes transformo em ideais. E, quando dou por mim, estou envolvido com aquele “projeto” até o talo. Por vezes mal dou conta da partida, mas vou tocando o ideal na boa vontade, na perseverança, na marra e acabo chegando lá. E assim vou realizando todos os meus sonhos e ideais. VÍRGULA, QUASE TODOS.
Ainda era moleque e o Circo Teatro Riso da Mocidade, tendo como seu artista principal – O GALBA – aparecia para temporadas, na minha cidade. Afora os palhaços para a molecada, o Galba era a principal atração. Fazia diabruras ao trapézio lá em cima. Sem rede de segurança, dava voos rasantes de deixar  a plateia com o coração nas mãos! Ao final da apresentação ele dava um salto olímpico  com duas ou três “cambalhotas no ar” e pulava  de pé, intacto e sereno ao chão, para em seguida fazer um breve gesto genuflexo. E a plateia caía em aplausos delirantes! Eu era moleque, logo queria voar, ser o Galba. Não deu. O máximo que consegui foi “gritar” o palhaço na rua, para chamar a atenção do povo, para o espetáculo à noite.
Já dono do meu nariz, aos quarenta e poucos anos, volta em mim a ideia de voar. Agora num ultraleve. Lembra do ultraleve voando lá em cima que a gente só via um ponto amarelo em deslocamento? Lembra? E passei a trabalhar obstinado e proposital em busca do ideal. O  “projeto voar” ia bem, já tinha metade do dinheiro do equivalente a um automóvel Opala-zero quilômetro, da época. E já me movimentava pelas informações básicas do voo.
Nesse interregno, fiz uma viagem a Belém, em companhia da mulher e do filho, então com dois anos de idade. Na estrada, o pneu furou e eu fiquei enguiçado por  falta de um macaco. Era madrugada escura, tempo bom, cachorros latindo em volta e eu “no prego”, onde fiquei por umas duas horas, até o dia amanhecer. Naquele sufoco pus-me a refletir, num comparativo: E se tivesse caído em cima da rede elétrica? E se caísse num rio de piranhas? E se caísse numa roça de tocos? E se caísse na copa de uma árvore, na mata? Bem ali, em plena estrada, abraçando, cheirando e beijando a minha criança, acabei de uma vez por todas  com o sonho de voar.
Faz anos, fui à minha terra natal e vi que à beira de um agora pequeno povoado, ali, de velhos tempos, o meu pai deixou um pequeno terreno. E imaginei em fazer um “sítio florestal” para lembrar a memória do meu pai, num tempo em que a minha mãe ainda encontrava-se levantando “com o escuro” e fazendo as tarefas de casa – como sempre fez, antes mesmo de amanhecer o dia. Ainda... Pouco depois eu me debruçava sobre o local fazendo a benfeitoria inicial pretendida mas logo em seguida veio a ideia de levar mais adiante aquele serviço e fazer do local um “Memorial”, em homenagem ao meu pai.
Não deu outra! Imaginei que realizaria o tal “projeto” em três viagens de poucos dias, intercaladas, durante um ano. Lá se foram 37 viagens de mil e trezentos quilômetros em ida e volta (cada viagem) e... cinco anos nessa peleja! O “Memorial” que de memorial não tem nada, senão uma casa de eventual ocupação dentro da floresta decotada com sua logística de base: muita sombra, muito verde e muita natureza em volta, casa, “praça”, monumento, placas. E tudo me realiza e me alegra plenamente – até que a este ponto posso dizer que a meta está concluída. Vírgula, quase toda concluída.
E assim tudo meu está aqui, VÍRGULA, QUASE TUDO mas... o meu pensamento e a minha origem estão lá dentro daquele matagal, daquele sítio florestal, daquele “Memorial”. Nos finais de semana, então, a lembrança daquele lugar é um feitiço terrível para explorar os neurônios, a minha emoção e o meu imaginário. É como  no puro pensamento me ponho a vaguear por todo aquele meu lugar, “olhando”, “corrigindo”, “acompanhando” detalhe por detalhe de tudo o quanto plantei, edifiquei e deixei naquele meu lugar.
Por último, assim...  do nada, veio-me uma ideia, imagine! De montar e por no ar uma rádio, naquele capoeirão de fim-de-mundo. Aí a minha “loucura” disparou! De um instante para outro eu “via” as coisas acontecerem, como aliás sempre antevi o acontecer. E o que era uma ideia, de um dia para o outro virou um ideal. E logo  criei o lema “RÁDIO MEMORIAL, mais do que uma ideia, um ideal”. E assim uma antena  metálica de 20 metros já está lá. O transmissor de 25 watts também está cá e o resto da pouca tralha que cabe nas mãos está pronta para chegar lá.
Diz uma das vinhetas: “Em caráter experimental, está no ar, a sua rádio FM MEMORIAL – MAIS DO QUE UMA IDEIA, UM IDEAL” . E o encerramento institucional da programação dirá: “Neste momento, com a graça de Deus e com as bênçãos da Virgem da Conceição, encerramos mais uma edição da nossa programação para o dia de hoje. Agradecemos aos nossos ouvintes, a honra da audiência. E sob as bênçãos do Criador, prometemos estar de volta ao amanhecer do novo dia. Lembrando que o mundo dá voltas e a vida continua”.
E programas como “Bom Dia Minha Gente” (forró e prosa), “Boa Tarde Meu Lugar” (prosa e forró), “Boa Noite, Noite”, “Rádio-Livre”, “A palavra do advogado”, “Hei de casa!” (entrevista), “O Jogo das Pedras” (reggae). “A Jovem Guarda Está no ar” e “Rádio Memorial - a Memória Deste Lugar”, já fazem parte da imaginária “grade” de uma emissora que pretende ficar no ar por 15 dias ao ano, naquele lugar, quando eu estiver por lá (rsrsrsrsrs rsrsrsrsrs). E assim eu vou realizando todos os meus projetos de vida. VÍRGULA, QUASE TODOS.