Os textos abaixo são crias das minhas participações no rádio. O primeiro como um “lamento” pela despedida do PROGRAMA A NOITE É NOSSA, do amigo SITÔNIO SILVA; o segundo é uma onda nostálgica dos meus tempos de São Luís, na minha crônica PÁGINA DE SAUDADE, para o programa CLUBE DA SAUDADE, Mirante/AM, domingo, oito da manhã.

CARTA ABERTA A SITÔNIO SILVA

(PROGRAMA “A NOITE É NOSSA”)

- Meu caro Sitônio Silva, sirvo-me destas minhas cordiais saudações.
Longe se vai o tempo, em que o conheci ali na esquina do Armazém, na Getúlio Vargas, ao lado da Praça de Fátima, onde você, Sitônio, vendia BILHETES DE LOTERIAS. Velhos tempos, aqueles tempos. E você ali já com a humildade de sempre.  Mais tarde passei a vê-lo e ouvi-lo, ora pelos corredores, ora pelas ondas da Rádio Imperatriz. Você, um verdadeiro “coringa”, fazia de tudo. Mas assim como os bilhetes de Loteria, e a Rádio Imperatriz, a lição de que tudo na vida é por um tempo, só por um tempo:  “é princípio, meio e fim”.
Na Rádio Imperatriz você chegou primeiro e ficou por sete anos. Eu, Viegas, cheguei depois e fiquei por doze anos. Cruzávamo-nos pelos corredores; em reuniões; no estúdio. Fizemos juntos transmissão de carnaval, desfile de 7 de setembro e até futebol. E assim, desenhava-se ali “o princípio, o meio e o fim”. Nessa tua trajetória humilde e vitoriosa, passei a ouvi-lo na Rádio Mirante no programa A NOITE É NOSSA. Um dia, de passagem, faz anos,  você me deu a entender que teria interesse na minha partição constante em teu programa - era ali o meu fim, como enfim, o fim da Rádio Imperatriz. De modo que da mesma forma como nos cruzamos pelos caminhos da vida - depois, cada qual para o seu lado...
Recentemente, ensaiei uma participação no teu programa A NOITE É NOSSA. Levei a ti o projeto. No hoje-amanhã, hoje-amanhã, a ideia se desfez, porém nunca o meu ideal. Queria fazer um texto (uma crônica) duas vezes por semana, abordando sobre as músicas que tocavam no programa. E passei a te ouvir. Hoje eu tenho notícia de impacto de que o teu vitorioso programa que durou 21 anos (21 anos) na MIRANTE/AM chega ao fim. Uma trajetória a que poucos chegaram ou chegam. Imagino, Sitônio, o quanto te falta o chão! O quanto dói o teu coração! Por você e só por você, isso para mim também dói. Mas é como dita a lição: “tudo na vida é princípio, meio e fim”. É só por um tempo.
Meu caro Sitônio: Ainda no meu tempo colegial, um professor ensinava que a vida é qual uma pedra (ou uma bala) que projetada no espaço ela sobe, sobe, sobe, perde a força, descreve uma curva lá em cima e em seguida vai declinando até cair ao chão, ao plano terra, de onde partiu. Assim somos nós: no casamento, no trabalho, na saúde, na riqueza, na doença, na sorte e na desdita e tudo que tem começo tem fim. Sim, porque tudo na vida é princípio, meio e fim. Em princípio te digo que “o mundo não se acaba na nossa porta” e por fim te estendo o meu abraço de estima e solidariedade com uma lição que aprendi como resposta da vida: “O mundo dá voltas e a vida continua”. E se os homens nos fecham portas, Deus nos abre outras janelas.

PELAS RUAS DA CIDADE...
Noite dessas e eu acordado. Quando dei por mim, no pensamento, caminhava pelas ruas daquele meu São Luís antigo. Começava pela Rua do Passeio. A Rua do passeio de tantas idas e vindas; daquela minha CASA DO ESTUDANTE, foi e é a rua minha. E seguia até a Deodoro. A Praça Deodoro foi o sítio dos meus cruzamentos. 
Da Deodoro ora seguia para a Gonçalves Dias, ora pela Rua do Sol. A Praça Gonçalves Dias para o meu imaginário, encarnava “a Ilha do amor”, mas a Rua Sol - rua dos ônibus, estreita, insegura, tantas vezes me despertava o pavor. A João Lisboa é o recanto, a enseada da brisa que vem do mar. Todos os caminhos em São Luís convergiam para a Praça João Lisboa. É ali onde o vento-norte faz morada. E tantas vezes de mãos dadas com a namorada.
Da João Lisboa, fitando o velho Ferro de Engomar, eu saía pela Osvaldo Cruz a caminhar. A Rua Grande até parece que ali foi o meu lugar. E assim, noite acordada, seguia olhando vitrines, em calçados e confecções: Magazine Serrano, OCAPANA e sapatarias tantas. Era eu sonhando acordado. Lá adiante o Edifício Caiçara. Sempre me convenci que a brisa que vem da Bahia de São Marcos, faz contraponto com o Edifício Caiçara. Sempre! Dez da noite, dez e tanta agora é noite fria. Dobro esquina, cruzo a Rua de Santana e me agasalho na São Pantaleão. Casa do Estudante Universitário. Uma bênção de Deus e do erário...
No dia seguinte, qual no passado e qual agora no pensamento, o dia amanhece. Sigo pela São Pantaleão até as Cajazeiras. E com o dedo à boca, faço o apito, o ônibus para! A Kombi para. É um recurso do tempo colegial. Legal! E lá vou eu, cruzando a Fabril (velha Fabril), até o Sítio Saudades, onde trabalho - em frente à Casa Inglesa, na confluência com o Monte Castelo - aquele meu velho e amado Monte Castelo!
D’outra vez, quando volto novamente estou na Fabril. Fabril é uma velha marca das minhas passagens e de um amor que ali começou com tantas juras, encontros e tantas mensagens. E sigo pelo Caminho da Boiada, ora no aclive ora no declive do Caminho da Boiada! Lá mesmo que um dia sonhei em fazer morada, não por nada, mas pela leveza, pela calma, como disse a namorada.
Ainda na noite acordada, concluo a caminhada e novamente estou na Rua do Passeio, a rua que me adotou e que adotei para mim; a rua da minha juventude e dos meus sonhos sem fim. É no percurso dessas ruas, daquela minha antiga cidade, lembranças antigas na noite acorda – é como revejo, hoje esta... PÁGINA DE SAUDADE.