JOVEM GUARDA!
Corria o ano de 1965. O Regime Militar estava com a corda solta e a todo o vapor. Bem ali era um divisor da história e da política brasileira. A democracia no Brasil enfrentava e vivia uma nova página. Gente presa, políticos cassados e perseguidos. Mães que viviam à procura dos seus. Vivia-se um tempo de incertezas e de um céu nevoento. Era o Brasil iniciando um período que durou 20 anos e que se chamou de “Revolução de 64”.
Foi exatamente ao calor desse vapor que nasceu um programa de televisão, nas tardes de domingo, ao comando de Roberto, Erasmo e Vanderléia e que se chamou JOVEM GUARDA, com foco no entretenimento, na música, nas canções e que derivou para o maior movimento da música brasileira em todos os tempos. E que, qual um vulcão, mexeu com os costumes, os modismos, a cabeça e com o coração de toda a gente daquela época.
Muita gente que viveu aquele período, até hoje (até hoje), cultiva as canções, a música daquele tempo-JOVEM GUARDA. Era uma plêiade de autores, cantores, intérpretes, compositores. Um ninho de águias a céu aberto! Um tempo em que as músicas tinham letra, mensagem, conteúdo. Um tempo em que as músicas tinham sentido, construção e composição e falavam aos nossos corações, ao nosso sentimento. Músicas que despertavam o amor, a alegria, o prazer, a emoção. A gente ouvia uma música e sentia-se dentro da canção e dela fazia parte ou ela fazia parte da gente. Esse era o vulcão que mexia com a nossa cabeça e com o nosso coração.
- É desse tempo, os bailes de radiola e discos de vinil que tocavam as chamadas “festinhas”, as baladas noturnas que marcavam os finais de semana naquela outrora toda minha, Ilha-capital. Muitos dos pais, avós e netos de hoje são frutos daquela Jovem Guarda, feita por Roberto, Erasmo, Vanusa, Leno e Lilian, Deny e Dino, Rossini Pinto, Jerry Adriani, Ed Wilson, Renato e seus Blue Caps, Golden Boys, Os incríveis, Os Vips, Ronie Von, Demetrius, Sérgio Reis e tantos outros que compõem essa quase infinita galeria de tantos astros e estrelas.
Neste 22 de agosto a jovem guarda completou exatos 50 anos! E vejo que essa turma – essa moçada e rapaziada – que girou a roda do sucesso, que mexeu a com cabeça daquela gente, que mexeu com o comportamento, a linguagem, usos e costumes daquele tempo, muitos que arquivaram-se e outros que resistem em cabelos brancos, registra que a JOVEM GUARDA dos anos 60 hoje é apenas uma página da história.
E eu que fiquei para chorar e cultivar a quantos por mim passaram, deles que me ignoraram, outros que nem me olharam, guardo com estima meio milheiro daqueles discos, daqueles registros, um verdadeiro documentário, mas ainda assim perdido na poeira do abandono - abandonados.
Hoje, quando a JOVEM GUARDA completa 50 anos, eu contemplo os meus discos de vinil empoeirados; vejo que tudo é apenas uma virada de página da história e... por fim... UMA PÁGINA DE SAUDADE....
TEMA QUE ESCREVI PARA A JOVEM GUARDA:
Hoje, mais uma vez, o instinto e a razão me levam a viver e a reviver a JOVEM GUARDA - a música daquele meu velho e saudoso tempo. Cultivo a Jovem Guarda porque lá ficaram os meus passos, os meus rastros, a minha juventude, gana, garra - os meus devaneios. Gosto da Jovem Guarda porque lá ficou a rua em que eu morava, a moça que eu amava, a lição que eu estudava. Lá ficaram os meus anseios. Amo a Jovem Guarda porque ela foi o prato à mesa, a canção e a beleza; a fruta pegada com a mão; o verso pronto e o refrão. Foi alegria, sensação, foi nostalgia; foi a noite e foi o dia! Um tempo em que a gente sentia na pele e na alma a música que a gente ouvia!!!
Relembro e revivo os musicais da jovem guarda, porque lá ficaram os meus anos dourados, sentimentos guardados; como ficaram os inocentes e saudáveis bailes e embalos de sábado à noite, em casas de família, na minha velha Ilha-capital, do meu sagrado e consagrado tempo e templo colegial, numa época em que a minha juventude não fumava, nem cheirava, não desbundava nem roubava mas que ainda assim carregava um pecado que se multiplicava: namorava em pé... deitado... do lado... no perigo e a um “triz” – no sufoco e sem medo de ser feliz.
E foi lá na JOVEM GUARDA em que ficaram os meus riscos e rabiscos, cadernos, recados, bilhetes, cartas, canetas, retratos, anel e cordão - essas coisas de uma velha paixão. Ficou o meu primeiro emprego, o cinema, a casa-do-estudante; sonhos, ideais, minhas preces, joelho ao chão. Minhas vãs aspirações. Lá ficaram os meus medos, meus segredos e como sempre o acordar cedo, os sonhos do amanhã e minhas interrogações.
Lá ficou o meu sorriso e os sussurros dela. Lágrimas, confissões - encontros, desencontros e emoções; minhas tantas tentações. Ficou o caminho a pé, o filme, o cinema e a Santa Sé; a gente que emudeceu e o filho que não nasceu. Ah! Ficou a conversa a dois e os planos para depois. Ficou o sofá e a janela! O risco do amor por ela. Ficou aquela chuva fina, pecados entre cortinas, a parada de ônibus, a canção de Renato e Golden Boys e a inesquecível lembrança e saudade dela.“
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