IMPERATRIZ: UM CHÃO DE TODOS NÓS
Maio de 1.973. Manhã de uma segunda-feira. O Dia das Mães “foi ontem”. Foi quando, quase do nada, cheguei a esta cidade. Faz quarenta e dois anos. Isto aqui, naquela época, tinha uma aura de garimpo. Gente chegada e chegando de vários cantos do Brasil e do mundo. Gringos, carcamanos e outros estrangeiros – todo o mundo buscando e tentando esse “garimpo” e oásis chamado Imperatriz. Ônibus, ao que me lembro, chegaram depois uns dois ou três, precários, que faziam a linha Entroncamento/Beira Rio e vice-versa.
O bairro Nova Imperatriz, fazia pouco, tinha sido “desapropriado” e organizadamente invadido para o sofrimento e batalhas judiciais do seu então proprietário Antônio Galinha. Da noite para o dia, o bairro Nova Imperatriz ganhou, como o próprio nome indica, as dimensões e os contornos da cidade. E o Clube Juçara, que ali se instalou com uma opção de lazer do social, então com piso em vermelhão e paredes de tábuas, ganhou forças a ponto de que o seu nome deu nome à grande área em volta. Daí o bairro JUÇARA.
E a Avenida Bernardo Sayão? Conheci aquilo como um “estirão” ora de areia, ora de lamaçal, mas logo se via que a cena fazia parte do “garimpo”. Nessa época por aqui tínhamos três escolas do segundo grau. Escola Técnica do Comércio, Ginásio Bernardo Sayão e Colégio Ebenézer. E quando conheci o livro EU IMPERATRIZ, da pranteada Edelvira Marques, logo fui me apaixonando pela cidade e sua história.
A esse tempo, morando na beira-rio, quase todas as manhãs eu saía à janela para contemplar o rio e uma névoa que se espraiava sobre o seu leito. Sentia-me ungido pela sorte. E tantas vezes descia ao cais para ver aquele movimento de barcos e “rabudos”, uns ancorados, carregados ou descarregando e outros singrando as águas – fosse na subida, rumo à Bela Vista do Padre João no velho Goiás, fosse descendo, rumo ao Embiral e de lá para o Marabá levando e trazendo gente e riquezas. A esse tempo não mais jazia por aqui a riqueza vinda dos castanhais do Pará e só depois viu-se o banho do ouro que esse mesmo Pará também nos deu, ainda que com os enganos e desenganos da vida.
E o nosso aeroporto? Era um estirão em pista de terra compactada que ia da frente do Cemitério São João Batista até a Câmara Municipal, trecho em que hoje situam-se o SESI, o Fórum Judicial, OAB e outros adjacentes. Naquele tempo aquele meu querido CLUBE TOCANTINS dava um baile e fazia festas de peso aos sábados com Raimundo Bossa Show ao saxofone e com suas românticas tertúlias aos domingos.
Era um tempo de “igreja da ponta fina”, então referência da cidade, na Getúlio Vargas com Rua Ceará. Cacau, Macaúba, Mangueirão, Farra Velha e outros pontos múltiplos por aí com mulheres livres que completavam a frenética aura do garimpo. Um tempo de Panificadora Dular e Balaio que faziam a integração de uma geração saudável, sem vícios e sem pecado. Velhos tempos, belos dias!
Era um tempo em que a cidade e a Belém-Brasília eram cruzadas por caminhões carregados em madeira, arroz e gente. A esse mesmo tempo em que arrozeiras e serrarias trabalhavam a todo o vapor sem serem incomodas por “seu ninguém”. A pecuária também forte. Vejo agora como o tempo voa. Imperatriz tem 163 anos e até parece que foi “ontem” quando cheguei. Hoje eu paro no tempo e vejo o quanto Imperatriz também mudou. A ponte que liga o Sul do Maranhão ao Norte do Tocantins criou uma nova fronteira e estabeleceu um novo marco na vida e na história da cidade e da região, estendendo suas benesses também ao Sul do Pará.
Imperatriz é qual uma árvore que cresce por si só com a força de sua gente. Isto aqui tornou-se uma cidade-polo, epicentro do progresso macrorregional. Assim é que temos uma rede universitária com cursos de terceiro grau nas mais diversas áreas do conhecimento. Por último com curso de Medicina prestes a ser implantado, além de múltiplos outros cursos universitários à distância que gravitam por aqui. Os cursos técnicos nas mais diversas áreas também multiplicaram-se na cidade. E o avanço da escolaridade de segundo grau? Uma rota invejável que investe na segurança e qualidade do ensino, no dia a dia.
No campo da prestação de serviços tais como: jurídico, saúde, engenharia, arquitetura, construção civil, agronegócio, hotelaria, autopeças, movelaria e do comércio varejista e distribuidor em geral, transporte terrestre e aéreo. Imperatriz é uma central incomparável neste pedaço do país. Serviços da administração e força pública como: Exército, Marinha, Aeronáutica, dois Batalhões da Polícia Militar, Justiça Federal, Justiça do Trabalho, Justiça Estadual; diversas Delegacias de Polícia Civil, Delegacia do Trabalho, OAB, demonstram o potencial que é esta cidade.
Também são visíveis os crescimentos horizontal e vertical da cidade com emblema de grandes edifícios levantados e outros que se levantam na Beira-rio, no Juçara e no Três Poderes. No crescimento horizontal estão aí grandes loteamentos e construções que se multiplicam na cidade, seja na rota da BR, como no segmento Imperatriz/João Lisboa. Também de notar o crescimento industrial em que a cidade se entrega: laticínios, cerâmica, movelaria, panificação e a silenciosa confecção.
- Agora eu volto no tempo: 1973. E vejo vareiros com “cambos” de peixe ao ombro: pacu, piabanha, branquinha, caranha, mandi subindo a ladeira para vender na cidade, aos gritos: “Oh o peixe!, oh o peixe!”, num tempo em que certos produtos eram medidos ao “litro”. E vejo feliz a brisa daquelas madrugadas e a cidade entregue ao silêncio, quando a gente voltava sem medo e sozinho das festas do Clube Tocantins.
Muito obrigado, meu Rio Tocantins, por você somar e dividir. Obrigado, Belém Brasília, por você tanto servir. Obrigado, minha cidade, por você existir como essa IMPERATRIZ DE TODOS NÓS, um chão de todas as oportunidades.
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