ADEUS AO DOUTOR ARMINDO REIS

Não tive maior convívio com o juiz Armindo Nascimento Reis Neto (Doutor Armindo), que faleceu na semana passada, vítima de acidente de trânsito, após ter passado 26 dias internado na UTI, num hospital nesta cidade.
No velório e na missa de despedida, o grande espaço da Associação Médica foi pequeno para tanta gente. Gente de todos os quadrantes: juízes, promotores, defensores, advogados, servidores do judiciário, amigos, familiares. Os discursos que se ouviram em homenagem a ARMINDO tiveram uma nota só: a humildade, a simplicidade, integração e prestação social, o caráter, a cidadania e a retidão que era o cidadão e juiz ARMINDO REIS.
Filho do desembargador aposentado Dr. Mário Lima Reis, conheci o jovem Armindo ainda colegial, quando Dr. Mário era Juiz de Família, nesta cidade. Ele mesmo Mário que mesmo à distância o conheci ainda na senda da advocacia, pós-faculdade, como advogado de um órgão de trabalhadores rurais – FETAEMA.
Dr. Mário Reis em mais de 40 anos que o conheço sempre teve uma postura única: simples, acessível, cordial, comunicativo. Despertava-me a atenção ver um Mário Reis, incondicionalmente ligado à sua família por todas as veias e em toda a sua respiração. Seus dois filhos que tornaram-se Juízes de Direito, mas para o pai eram e são como crianças-de-colo, infantes, meninos, adolescentes, tal o carinho, o zelo, o aconchego, a afetividade velada e extremada com que MÁRIO REIS e sua esposa D. MARIVALDA sempre-sempre dedicam-se aos filhos. ARMINDO REIS é sangue e cria desse berço e dessas veias.
A integração em família vem de longe, quer dizer, vem da beira: vem do patriarca ARMINDO REIS (avô), que o conheci de passagem em sua banca de alfaiate nas beiras da Fonte do Ribeirão, centro histórico da quatrocentona São Luís, ele mesmo o velho ARMINDO, fonte de inspiração e respiração do filho-MÁRIO, seu tema de reverência, agradecimento e saudosismo na posse ao cargo de DESEMBARGADOR, na capital – foi como tomei conhecimento pelos jornais.
ARMINDO REIS NASCIMENTO NETO é um elo que se desprende (?) na corrente da família integrada e realizada; é aquele garotão colegial, de férias por aqui em que os pais só conciliavam o sono quando o rapaz chegava das baladas em finais de semana; aquele menino que cresceu, mas que para os pais era o “cheiro” e o traquina daquele inocente em fraldas, ora engatinhando, ora nos primeiros passos, começando a falar. É daí que vem o sangue, a formação e a ALMA do cristão ARMINDO REIS, o filho do desembargador e da simplicidade, o juiz, o “motoqueiro”, o homem despido do “fardão” da corte, o pé no chão e a cabeça no lugar que sempre nortearam a sua vida. A simpatia e humildade com que abria as portas para o acesso dos cristãos, SEUS IRMÃOS. Descansa em paz, meu caro ARMINDO, porque aqui no chão a vida continua. Afinal “Os humildes herdarão a terra e se deleitarão na plenitude da paz” - Salmos: 37:11.
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BEM-TE-VI - UM CANTO DE SAUDADE
- Ainda me lembro daquelas manhãs e dias felizes quando eu tinha um programa na Rádio Imperatriz; uma velha paixão na minha vida! Um rio que passou em minha vida! Afinal, foram uns 14 anos em que mourejei por lá. Velhos tempos, belos dias! Tinha então o programa RÁDIO LIVRE (“livre como você”). E então eu voava no pensamento, nas ideias, na opinião. E assim aquele meu Rádio Livre viveu dias felizes, manhãs felizes, temas felizes.
Naquele dia, manhã bem cedo, acordei com um velho conhecido (e até mesmo perseguido) – que há muito nem eu via nem ouvia, cantando entre o arvoredo e o muro do meu quintal. Era um bem-te-vi! Voei no tempo! Voltei a ser moleque, criança adolescente. E lembrei-me daqueles dias de sol, daquelas tardes sombrias, quando eu, inocente e travesso, ao bem-te-vi perseguia. Instintivamente perseguia. Aprisionava, prendia. É que o bem-te-vi gostava de uma frutinha de “são caetano”. Era ali onde se tornava prisioneiro daquela minha conduta e sentimento insano.
E relembrando toda aquela trajetória em rasgos de lembrança e memória, corri à máquina de escrever e escrevi sobre o bem-te-vi, contando toda a nossa história. E se antes ao bem-te-vi fui um perseguidor, um vilão, agora é respeito, carinho, estima e admiração. Afinal o bem-te-vi é ave, é frágil, é beleza, é canto e encanto - é cria da natureza. E naquele meu RÁDIO LIVRE, no quadro “RECORDAR É VIVER”, dediquei-lhe um tema, fruto da inspiração, do sentimento e da canção. Era eu genuflexo, clamando e pedindo perdão. Qual um Paulo que caiu do cavalo. Amando, reverenciando, entregando-me e aberto em meu coração.
- Hoje quando revejo na lembrança esse momento que um dia foi um ato de insanidade / que depois revelou-se num gesto de entrega, de respeito, de carinho e amizade / numa crônica para selar aquele encontro de felicidade / – é com estima ao BEM-TE-VI que escrevo esta PÁGINA DE SAUDADE. (Publicado na Rádio Mirante/AM, São Luís,  manhã de domingo – “CLUBE DA SAUDADE”).