Lembranças das minhas passagens pela Rádio Imperatriz (conclusão-III)

ABRE PARÊNTESE. Final da penúltima edição: E só quando cheguei no dia seguinte é que vim a saber que a emissora havia sido vendida para a Igreja Assembleia de Deus, em cujas mãos até hoje permanece, agora com aquele áudio que lembra aquele meu velho tempo de AS ANDORINHAS: “As andorinhas voltaram / E eu também voltei / Rever o velho ninho/ que um dia aqui deixei... É quando bate uma saudade de um tempo que não volta mais... nunca mais... FECHA PARÊNTESE.

Um detalhe, porém, marcava o programa. Era que a cada tema abordado  o programa respondia com uma música que compunha o assunto. Era um baile! E daí que RÁDIO LIVRE era anunciado como mais um “campeão de audiência”. Era bem aí o lado forte e inédito e exclusivo do programa. Todavia para isso tinha que investir em pesquisa e o sonoplasta “suar a camisa”, como disse o “operador de áudio” WENDER CARVALHO na informação que prestou no recém-lançado livro ONDAS DA MEMÓRIA – A pioneira Rádio Imperatriz.
Registros que não posso deixar de fazer nestas PASSAGENS PELA RÁDIO IMPERATRIZ é que guardo até hoje (por onde não sei), todas as cartas dos ouvintes que recebi durante a minha estada por lá; guardo também, arquivado, incontáveis programas “produzidos” à máquina de escrever, com toda a sua estrutura, inclusive as músicas a serem rodadas ao final ou às intercalas em cada fala; guardo também inúmeras fitas-cassete com programas gravados. Guardo finalmente na lembrança a confissão de incríveis depoimentos das pessoas sobre o programa, sobre os temas dos programas e dos quais permito-me alguns relatos.
Por volta do ano 2011, aporta em nosso escritório uma jovem-senhora oriunda das terras do Sítio Novo-MA. Ela disse que em sua casa eram sete pessoas: cinco irmãos mais pai e mãe. Os pais não perdiam um programa. E, naquele horário, punham os filhos para brincar no quintal e trancavam-se à escuta. Disse que, numa certa feita, o rádio enguiçou antes do programa. E então sua mãe caminhou SEIS LÉGUAS, mas quando chegou à casa da amiga, o programa já tinha acabado.
Faz algum tempo, procurei uma empresa de prestação de serviços. À minha saída e dando uma “carteirada”, frisei o meu nome. É você o Dr. VIEGAS da Rádio Imperatriz? Perguntou-me a gerente. Recomeça a conversa e o depoimento: “Aprendi a ouvir rádio com o meu pai, através de você. Era ainda uma criança, 13, 14 anos. E o meu pai me dizia: “senta aqui minha filha, vamos ouvir o que este homem tem para dizer”. E assim permaneciam os dois atentos, ouvindo em silêncio. Nos intervalos comerciais ou musicais, o pai explicava à filha o significado do assunto.
Numa outra ocasião, falei sobre o cajueiro da minhas traquinagens de infância, na volta da escola das primeiras letras. Numa certa tarde, rumo da ex-chácara com a família encontrei-me com uma senhora em companhia do marido. Ah pra quê? Ela abraçou-me chorando e dizendo que também teve um cajueiro na sua infância, em terras do Ceará, para aonde nunca mais conseguiu voltar. E tome chororô... E aquele outro que me lembrou sobre “a crônica do Bem-te-vi”? “Uma lembrança que ficou para até hoje e para sempre”, disse.
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E se me perguntarem qual é o meu sonho no rádio, eu respondo sem pensar. O meu sonho é um dia voltar ao rádio, para morrer feliz. Quero ter um programa noturno, lá pelas dez da noite, meia noite, duas da madrugada. Quero fazer uma crônica “máquina de escrever” e rejuvenescer a máquina a que tanto amei, dedilhei e dominei; que me abriu portas, que me deu o primeiro emprego e o segundo emprego que me ajudou a chegar até aqui. Exemplares que para sempre guardarei.
Quero ter um programa que se chame “...NAS ONDAS DO RÁDIO”. Quero tocar músicas da “Jovem Guarda”, elas que fizeram os meus anos dourados, elas mesmas que me levaram aos bailinhos de radiola e discos de vinil; com elas que interagi, o meu tempo que vivi; dancei e amei as namoradinhas dos meus vinte e poucos anos.
Quero fazer a sequência “Recordar é Viver” para sensibilizar nas pessoas um tempo que se foi; quero fazer um programa “leve”, “sem peso”, mas  sempre com a minha assinatura em forma da bandeira de um barco que nas minhas divagações e sob a brisa da esperança e da perseverança no “mar da vida”, me levou a diversos “portos” desse oceano do viver; quero  fazer do rádio o que sempre fiz: uma festa! E, em lugar de trabalho, um brinquedo-feliz. E senti-me como no verdejante e sombrio quintal da minha casa, no coração da minha Manoel Bandeira, ao som de passageiros sabiás, anuns, bem-te-vis, curiós-tisiu rolinhas-fogo-pagô e perseverantes pardais.
Quero fazer um rádio com produção em textos escritos, com a interpretação do texto, da notícia, da matéria. Não um rádio oco, vazio;  do oba-oba, do blá-blá-blá, da “hora certa”. Um rádio que toque e mostre e desenhe “a prata de casa”, seja ele o cantor, o tocador, o catador, o pescador, o varredor, o doutor, o encanador, o escritor, o pintor, o lavrador, o professor e até mesmo o “pedidor”. É assim que sonho tocar esse vapor na noite fazendo frio ou calor. Deixando as pessoas a “curtir” e a refletir sobre esse imaginário andor: “NAS ONDA DO RÁDIO”.
Esse é o sonho que sonho em realizar. Voltar ao rádio antes de partir, para concluir um trabalho que ficou no meio do caminho. Eu que fiquei na Rádio Imperatriz até a véspera (um dia antes) do seu fechamento. E que o programa tenha a vinheta de abertura e encerramento, na música ESTAÇÃO DA LUZ, de Alceu Valença: Lá vem chegando o verão/ pela estação da luz/ é um pintor passageiro /colorindo mundo inteiro/ derramando os seus azuis... ... pintor chamado verão... ...Tão nobre é sua aquarela / papoulas vermelhas  / A rosa amarela/  o verde dos mares/  As cores da terra me fazem  moreno/ Para os olhos dela...