Lembranças das minhas passagens

Pela Rádio Imperatriz (continuação - II)

ABRE PARÊNTESE: Texto final da edição anterior: “Fiquei mais por outros três anos, sem deixar e sem levar problemas ou aborrecimentos. Afinal eu era um “freelancer”, sem carteira e sem salário. E quando voltei no “terceiro turno”, tão pacífico quanto saí, voltei com a CRÔNICA AO CAIR  DA TARDE”. Cinco minutos. Seis da tarde, em ponto, prenúncio da Ave-Maria e com a música que fazia a vinheta de sempre! Ao vivo! Em carne e osso! Uma das minhas realizações: no coração, na vida, na emoção, nas vértebras, no sangue e... no rádio”. FECHA PARÊNTESE.
A esse tempo surgiu o programa O RÁDIO NA TV, no “novo SBT” então do Sr. Fiquene, sob o comando de Clélio Silveira. Clélio, no ar, sugeriu que precisava de um advogado no programa. E... não teve a chamar, imagine! Chamou pelo meu nome! No dia seguinte eu estava compondo o time de O RÁDIO NA TV, longe de imaginar que feria os brios do Sr. Diretor da Rádio Imperatriz.
Fui chamado na jugular: “ou lá ou aqui”. Declarei que não era empregado, não era assalariado. Um simples colaborador e que não via conflito naquela participação. Moacir, o dono, cobrou “exclusividade”. Então saí da Rádio Imperatriz. Fiquei no SBT fazendo um comentário diário por mais de um ano e saí. Em seguida, veio um cara fantástico chamado TOMPSOM MOTA, que apresentava o eclético programa homônimo. Tompson também me convidou e aí eu deitava e rolava. Fiquei por mais um ano. Convicto, no entanto, de que a TV não era, como nunca foi, a minha praia.
Certa noite, quando eu ainda fazia o TOMPSOM MOTA, encontrei-me com o Moacir Spósito e sua então companheira no “Hapy Hour”, um barzinho da noite, que ficava ali na 15 de Novembro, ao lado do Rotary Club. Papo vai, papo vem e quando dou por mim, estava levando uma cantada para fazer um programa sertanejo das cinco às sete da manhã. Olha a encrenca! E como tudo o que faço e fiz na imprensa sempre dei os meus títulos, dias depois eu estava com o PROGRAMA DOUTOR VIEGAS. Levantava às quatro da manhã e como moro (morava) perto da rádio, ia a pé.
Mais tarde fui mudado de horário (na rádio) e fiquei de oito às dez (da manhã). O famoso horário nobre do rádio, espécie e “carro chefe” da emissora. Ali, então, criei o programa RÁDIO LIVRE “livre como você”. Aí era um festa, um brinquedo onde eu nunca via nem sentia as duas horas do programa. RÁDIO LIVRE, um rio que passou em minha vida. Nele dei toda a vazão a serviço da criação. E dei asas ao meu instinto e aos meus neurônios, sempre um rádio feito debaixo da “produção”. E fiz de RÁDIO LIVRE muita coisa que não vi nunca-nunca vi nem ouvi no rádio.
E criei temas como O DRAMA NOSSO DE CADA DIA (crônica), o comentário “A VIDA COMO ELA É”; “AMOOOOR... MEU GRANDE AMOOOOR” (que falava das relações conjugais, geralmente desfeitas, como assim é o dia a dia); a HORA E A VEZ DOS OUVINTES; RÁDIO LIVRE ATENDE A SUA CARTA (carta do ouvinte a ser respondida no programa), O ADVOGADO ESTÁ NO AR, orientações do programa em temas jurídicos - temas cativos da grade do programa.
Depois vieram outros como: JONGUEIA (tema da História, a respeito da escravidão no Brasil), CADÊ VOCÊ? (o programa localizava parentes que não voltaram), A MODA DA PINGA (uma sátira saborosa sobre bêbados e botequins, oriunda de fatos da vida real), RECORDAR É VIVER (músicas que fizeram sucesso) e LAMPIÃO E MARIA BONITA (com estórias hilariantes sobre as aventuras e as façanhas do cangaço). Estes sempre aos sábados.
Uma ouvinte escreveu e disse que gostava do programa por causa do “FORRÓ QUE RODA”. No fundo me toquei, pois a produção do programa tomava o meu tempo, me dava dor-de-cabeça, varava a noite, levantava-me nas madrugadas, exigia pesquisas jurídicas e outras, entrava em conflito com o escritório. E a moça dizendo que gostava do programa “por causa dos forró que roda”! Então, convidei a ouvinte para ir ao programa para a gente conversar. Ela não foi. E então criei o quadro OS FORRÓ QUE RODA, 15 minutos e puro forró pé-de-serra sempre aos finais do programa.
Mais tarde, as mãos que me colocaram na madrugada e no horário nobre, elas mesmas me transferiram para as duas da tarde. Logo vi que aquele horário era “um osso atravessado na garganta”. Não dei conta e então “pedi as contas”. Como sempre saí quando quis e voltei quando quis. Um dia “bateu um piolho” e dei o grito: “vou voltar para Rádio Imperatriz”. O meu lugar me esperava! Mas aí eu sugeri que fizessem uma vinheta anunciando a minha volta. E assim em própria voz eu gravei uma vinheta que rodava umas oito vezes dia e noite: “Alô amigos, aqui fala o Doutor Viegas. Os bons tempos estão de volta. E eu também estou de volta aqui na Rádio Imperatriz, com o programa RÁDIO LIVRE”, às oito da manhã. Aí a vinheta completa com a música AS ANDORINHAS: As andorinhas voltaram / E eu também voltei / Rever o velho ninho/ Que um dia aqui deixei. E voltei por cima!!!
Tempos depois, penso que sentindo-se o Dr. Moacyr cansado daquele luta, resolveu contratar da praça de Goiânia-GO, mediante anúncio no jornal, um administrador para sua emissora e acabou por admitir como gestor um senhor de boa idade, de nome AFONSO. Afonso tinha “carta branca” e andava com um rádio mediano ao ouvido, por onde ia. Eu, irreverente, metia o dedo em tudo o quanto era ferida. Afonso tentou me entregar para o Moacir, mas que este, ao que me disse, me defendeu e deixou passar. Percebi suas caras e bocas que se franziam. Um dia fui passear na minha terra e não voltei mais à Rádio Imperatriz. Olha a irreverência!
E quando voltei, passado algum tempo, resolvi novamente voltar. Mas aí novamente os tempos estavam mudados. Havia na emissora um diretor – UM “JAPONEZ”. Também egresso da Praça de Goiânia, fruto daquele mesmo anúncio a que viera o Afonso. Fui falar com o “JAPONEZ”, como se começando do “marco zero”. Apresentei-me com toda a minha trajetória, os meus trabalhos, inclusive com a minha “OAB”. O cara foi direto: o quadro está fechado e a minha equipe está completa e não tem mais lugar para ninguém. Mas me fez uma pergunta: “Afinal, o que te leva a querer voltar par a Rádio Imperatriz”. Foi a minha vez: “Quero voltar porque o rádio é o meu DNA, é um projeto de vida, um sonho de criança. Fazer rádio para mim é fator de realização pessoal. É uma festa! E arrematei: quero só fazer uma crônica, diária. O cara não aguentou e cheio de reservas, me mandou para o PROGRAMA do MS.
Fui para o programa do MS fazer um tema jurídico diário. Atender a uma carta. O MS, com pretensões eleitorais, alavancadas pelo “JAPONEZ”, deixou-me claro que tudo o que eu deveria fazer era tão só responder à carta. Nem a leitura (da carta) não poderia fazer. Aí o MS atropelava na leitura, não dava a interpretação devida ao texto, exibia-se no quadro, podava a minha participação e eu vivendo ali o meu “inferno astral”. 
Mas como “o mal por si só de destrói”, pouco depois o “JAPONEZ” entrava em rota de colisão com a emissora e, em cascata, o MS que sorvia assumido da sombra do “JAPONEZ”, também. E assim voou o “Japonez”, voou o MS, voei eu, também. Ainda tive o convite para engatar com o Manoel Leal, um locutor vindo da amplificadora da periferia, num trabalho muito “populacho”. E disse NÃO. E não mais voltei por lá.
Moacir, como que desencantado com os diretores que pela Rádio passaram, reassumiu a sua emissora. Os tempos estavam mudados. E emissora mostrava-se vivamente decadente. Poucos anunciantes. Não haviam mais profissionais “de peso”. E eu que sempre saí quando quis e voltei quando quis, ao tentar voltar mais tarde, encontrei um Moacir reacionário e difícil, sob alegação de que eu “faltava” ao programa – E me disse NÃO. Suportei doído. Mas eu que sei que acabam as relações do trabalho, acabam casamentos; amores acabam. Como sei que tudo tem começo, meio e fim.
De fato durante os 14/15 anos que fiquei na emissora, por vezes faltei ao programa em face de audiências e julgamentos judiciais, viagens às cidades periféricas (coisa de um dia), mas nunca-nunca por irresponsabilidade, desídia ou falta de compromisso. E em muitos casos “gravava o programa” – coisa que nunca gostei de fazer. Porque o programa gravado não tinha sabor, afigurava-se um “mal-enlatado”.
Pouco mais tarde, quando o Moacir faleceu, fiz um telefonema para o seu filho MARCELO, que assumiu a emissora. “Marcelo eu sou o VIEGAS, fiquei 14/15 anos na Rádio Imperatriz e nunca dei problema, nem tive questão. Eu quero voltar”. Ao que MARCELO me respondeu: “Me lembro de você, do seu programa. Eu sempre gostei do seu trabalho. Me lembro que as pessoas faziam fila para falar com você depois do programa. As portas estão abertas, você começa amanhã”.
No dia seguinte eu estava lá. Mas aí a Rádio era cada vez mais decadente, quase nenhum anunciante, o ambiente era desolador. O áudio estava péssimo. A emissora saía constantemente do ar. Era como se eu falasse às paredes. E não sentia nenhum estímulo, mas ainda assim era uma questão de DNA, do sangue das veias. Então nessa última passagem fiquei até o penúltimo dia em que a Rádio pertenceu aos SPÓSITO. Quisera ter sentido a dor de fechar as portas. Afinal, a dor faz o crescimento.
E só quando cheguei no dia seguinte é que vim a saber que a emissora havia sido vendida para a Igreja Assembleia de Deus, em cujas mãos até hoje permanece, agora com aquele áudio que lembra aquele meu velho tempo de AS ANDORINHAS: “As andorinhas voltaram / E eu também voltei / Rever o velho ninho / que um dia aqui deixei... É quando bate uma saudade de um tempo que não volta mais... nunca mais...
- Conclui-se na próxima edição.