Semanalmente, tenho um “TEMA LIVRE” às quartas, no Programa NOTÍCIA +, na BAND local, que está me dando com o pau na cabeça. Tem, também, estes... CAMINHOS, que é mais que um compromisso. E, para completar, também semanalmente, escrevo (e produzo) um texto que vai para o ar na Rádio Mirante AM/domingos, oito da manhã, na crônica “PÁGINA DE SAUDADE”, programa Clube da Saudade. Veja os últimos textos, a propósito do carnaval:
INOCENTES ESCOLAS DE SAMBA & MARCHINHAS
ERA ASSIM O CARVANAL
Cheguei de férias, no curso primário, 8, 9, anos de idade, início das atividades escolares daquele ano e a notícia que tive por ali foi o DESFILE DE UMA ESCOLA DE SAMBA. Desfile? Escola de Samba? Eu nunca tinha visto nem ouvido falar daquilo. E haja pergunta... Um milhão de interrogações.
E me disseram que todos tinham “vestimentas iguais”. Então eu perguntava: Era uma farda? Um uniforme? Desfile, escola de samba e a concepção de um uniforme (tudo por igual), aquilo mexia com a minha cabeça e não entendia como no carnaval tinha uma “escola”. Escola, para mim, era o meu Grupo-Escolar-primário.
Anos depois, quando fui estudar na capital, vi pela primeira vez uma escola de samba. Era um tempo em que os desfiles das escolas se davam na Praça João Lisboa, realmente todos com vestimentas iguais. E no fim do ano, quando voltei de férias à casa dos pais, também queria criar (fundar) uma escola de samba. Pode uma coisa dessas?
A esse tempo, início dos anos 60, falava-se aos quatro ventos que o “Carnaval de São Luís era o terceiro carnaval do Brasil”. E bem mais tarde, quando passei a ver o carnaval do Rio de Janeiro; as mil e uma deturpações e invencionices, as firulas, a indústria de consumo e lavagem de dinheiro; a escravidão, o jogo do bicho, o vil dinheiro e o suor dos vassalos e a “compra e venda” em que se tornou o carnaval brasileiro, vi que aquele nosso “terceiro carnaval do Brasil”, início dos anos 60, era uma “coisa inocente”, só uma água com açúcar, qual aquela “escola de samba” das minhas interrogações e basbaquices dos meus tempos de curso primário.
Aliás que àquele velho tempo, o forte do carnaval eram as “MARCHINHAS” que surgiam em fartura durante o carnaval e que animavam os clubes populares e sociais, e os “bailes de salão”, com direito a confete e serpentina. Músicas interpretadas por uma legião de cantores de todos os naipes. E eu ficava fascinado com aquelas “marchinhas” que, para mim, faziam a essência e o sentido do carnaval. E nos bailes em clubes? Neguinho se desmanchava em suor e o salão era um vapor e os foliões em calor. Era um tempo em que homem “curtia” com mulher e mulher “curtia” com homem. Os tempos mudaram. As marchinhas acabaram.
Hoje uma parte da mídia televisiva tenta reencarnar a marchinha de carnaval, mas a gente vê que não pega, que o tempo passou. E então eu me lembro de um carnaval quando voltei ao meu chão da baixada, vi que uma marcha eletrizante estava no ar, ela mesma mais tarde nas minhas travessuras ao sabor do pecado, nos eletrizantes e sensuais bailes de carnaval. É essa hoje, a minha PÁGINA DE SAUDADE.
**************************
ÔLALÁ – ÔLALÁ
E lá se vai a molecada gritando, fazendo zoada, correndo atrás. Adrenalinas a mil!!! Era um grupo de FOFÃO que estava passando e marcando presença no carnaval. Ôla-la-lá... Ô-la-lá... esse era o refrão, o cumprimento, a fala monossilábica, a saudação.
O fofão é(ra) um personagem presente e vivo e tradicional do carnaval da ilha. Fantasiado com aquele roupão folgado, tecido de xitão; cara escondida, máscara de espantalho, guizos à manga comprida; guizos na bainha ao tornozelo. E então o FOFÃO abria os braços, levantava as pernas, fazia piruetas e... Ô-LÁ-LÁ – OLA-LÁ...
A molecada curtia adoidado o FOFÃO. Mas era como num jogo de adrenalinas. Ao mesmo tempo em que corria para cima, por vezes fugia, voltava para trás. E o Fofão, palhaço e espantalho que já é(ra) a própria festa, fazia a festa e em meio aos seus guizos: abria os braços, levantava as pernas e... Ô-LA-LÁ... Ô-LA-LÁ...
Companheira inseparável do FOFÃO é(ra) uma pequena boneca de plástico que carregava nas mãos - sua arma, seu amuleto e meio de vida ali entre maizena, alvoroço e esguiços de água colorada. E o FOFÃO dava as cartas no carnaval. E porque cada um come do que tece, o FOFÃO esticava a sua bonequinha para o folião, era a senha... queria um dinheirinho... para uma “pinga” lá adiante. Sim, porque ninguém é de ferro... muito menos no carnaval...
O grande trunfo do FOFÃO era manter o rosto encoberto, escondido, tornando-se personagem incógnito, desconhecido – porque se levantasse a máscara e mostrasse o rosto, quebrava-se o encanto e daí o desencanto. FOFÃO de rosto exposto não era fofão. Era só um folião. E aí não tinha OLA-LÁ... OLA-LÁ-LÁ...
E assim vivia o FOFÃO: ora solitário, ora em pequenos grupos, ora no seu bloco propriamente dito; marcando presença, divertindo-se e divertindo a galera; sempre com sua fantasia de chitão entre guizos e maizena e sua cara de espantalho, esticando a sua boneca e, faceiro e treiteiro, querendo um trocado para a pinga lá adiante. Ô-LA-LÁ ... Ô-LA-LÁ...
Comentários