Gente que faz
Não abro nem posso abrir mão do meu projeto GENTE QUE FAZ para homenagear, nesta coluna – eles e elas que fizeram e fazem a argamassa da construção desta cidade – com trabalho, honestidade e dignidade. E, sobretudo, com “as mãos e suor dos justos”. Que Deus abençoe esse meu projeto!
“Vontade política”
Odeio essa tal “vontade política”, como igualmente odeio um tal de “... faz a diferença”, verbos surrados que pululam por aí. Mas o que é, se diz: Moro na esquina da Manoel Bandeira com Benedito Leite e tornei-me, involuntário, testemunha dos acidentes de trânsito que ali acontecem constantes dia e noite. E então falei com o Sr. Jota Ribamar, mandei-lhe cartas aqui por estes CAMINHOS; também mandei cartas ao dele-chefe Madeira e ninguém me respondeu. E os acidentes naquela minha esquina continuaram. Fiquei frustrado e ressentido com a indiferença. Há um mês, incidentalmente, encontrei-me na rua com o Prefeito Madeira e abordei-o sobre os tais acidentes. No mesmo instante Madeira fez uma ligação dizendo ali ser para o tal Jota Ribamar, falando sobre aquele meu pedido. Nem acreditei. Dois dias depois, o problema no local estava resolvido. “Vontade política” é isso aí. E “isso faz a diferença”. Taí no que dá ser CIDADÃO DE IMPERATRIZ!
“Peço o seu voto”
Outro verbo surrado é esse tal “... peço o seu voto”. De mamando a caducando, grandes e pequenos encerram a venda do seu peixe nas firulas e basofias e fanfarronice do horário eleitoral com um rebatido “peço seu voto”. Vejo aquilo para me divertir e acabo me aborrecendo. O cacete é mesmo de sempre. Por vezes tenho enjoos, fazer o quê? E ficou vendo e ouvindo só para ver até aonde vai o escafaçado que é aquilo ali. Fosse eu que estivesse naquele lugar, daria uma “nova leitura”, uma nova senha a essa pedilança. E não publico aqui. Não vou ensinar pai-nosso a vigário. Ou, como se diz na minha terra: “quem pariu Mateus que embale”.
Falando nisso:
Faz anos, no bar do Hotel Central, em São Luís, local de encontro e confraria de políticos e outros entrujados desse peito. Época de eleição. Aparece por ali um viandante, excluído e João Ninguém; uma figura carimbada do local - um sujeito que carregava uma cabeleira em tranças que lhe atingiam os pés. Folclórico, a cabeleira e sua indisfarçável loucura eram o seu trunfo. Falava sozinho. Queria plateia. Dizia que tinha um plano para eleger qualquer prefeito, qualquer vereador, qualquer deputado. Eu comigo: “pobre coitado”, era como pensava. Mais tarde, porém, eu, ouvinte daquele insanidade, convencia-me também de que tinha (como tenho) um plano para eleger um vereador. Logo eu, que nunca me candidatei a absolutamente nada! Vejo então como o mundo dá voltas... e que a gente pode ser mais um insano em meio a tantos.
Altas horas
Altas horas e naquele minha Manoel Bandeira, cortando a Benedito Leite, passam carros de sons, detonando, estropiando a cidade e o sono e o sossego públicos. Semana passada não foi diferente, aliás, foi pior: parece até que o mundo ia se acabar com um zuadão sem limites, como se isto aqui fosse uma terra sem dono e sem lei. Reclamar a quem? E à véspera das eleições, na noite, a propaganda eleitoral comia de rabo solto.
O mundo muda de lugar
Um dia, eu ouvi um cara dizer que o “o mundo muda de mãos, de dono, de lugar”. Esse cara era eu. Embora nem sempre seja assim, mas é o que a gente está vendo no quadro politiqueiro desta jornada. Todo o mundo ali grudado com o “peço o seu voto”, “para fazer muito mais” e outros, bobos da corte - estão ralando para botar o bloco na rua - candidatos a deputado estadual, a deputado federal. Nadinha, só para ver se aparecem na próxima, para vereador. Olha que esse povo sabe das coisas!
Mas o que eu queria dizer mesmo nesse “muda de mãos... de lugar”, é que se antes o rega-bofe era em cima dos comícios políticos, dos palanques eleitoreiros, da festança com cantores e banda/s, para enganar o povão, agora mudou de mãos: agora é “carreata”, bandeiraços e santões de metro quadrado. E até aquele marceneirozinho da Rua Beta fez uma montanha de esquadrias de madeira para montar um vistoso “tripé” para ostentar o retrato do candidato. Agora que “showmícios” não têm mais boca, como diria o Cobra Mansa, eis que Bandeiraços, carreatas, santões e até esquadrias de madeira, ganham maior espaço na politiquice por aí. Mas é como o cara costuma dizer: “o mudo muda de mãos, de dono, de lugar”.
Artista...
Artista é o cara que, por exemplo, surge do nada; que usa as cores para trabalhar o imaginário das pessoas. Artista é o cara que se tranca no armário; outros que saem do armário. Artista é aquele que com lápis e papel faz poesia e canções. Artista é o sujeito que, no gogó, dá nó em pingo d’água. Que com uma alavanca move o mundo ao redor. Que com um risco escreve Francisco. Artista é o cara do táxi-lotação: enfrenta o risco e a desgraça na luta pela sobrevivência. Artista é esse cara que instala um comércio no meio da rua, no meio da praça – no metro quadrado mais caro deste pedaço de Brasil e não pede licença, nem paga aluguel.
O tema que vou escrever:
Fim de semana passada, duas da tarde, à sombra, eu vi o moleque-de-rua, numa esquina, dividindo e comendo a sua marmita com outro parceiro da mesma sorte. Segui dali me perguntando sobre aquela dura e cruel realidade. Dois dias depois, duas da tarde, do outro lado da rua, na calçada, os dois jaziam sob o sol escaldante, de cara pra cima, a sono solto. Tive a impressão de que entraram numa “overdose” dos seus vícios. E, novamente, vejo a sorte dividida – cuja dor, no meu silêncio e agora, neste grito, divido com eles. É o tema que vou escrever nestes... CAMINHOS.
* Viegas questiona o social.
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