A JANELA DO TEMPO 

Diria que a JANELA DO TEMPO na nossa vida começa aos quatro... cinco anos e com ela as primeiras noções do mundo ao redor. E então a nossa janela vai-se abrindo, deixando entrar os primeiros raios de luz.
Lá em cima, janela aberta, cá embaixo a vida segue na certa! O tempo passa. Agora já estamos com 14, 15, 16 anos - é como se o sol da nossa vida já bata à nossa janela com mais definição. E então  começamos a ter mais consciência do mundo ao redor. E segue a vida e segue a janela do tempo.
E quando chegamos aos 18, 20, 21, vem  a noção de maioridade, que não quer  dizer maturidade. E então, da nossa janela, começamos a dar de cara com a nossa realidade. Outrora dependentes, agora aos vinte tantos, 30, 40, 50, somos o dono da nossa razão, temos mais que “se virar”. Lá em cima como a bater o sol do meio dia. E, na janela do tempo, também estamos à meia idade, ao meio-dia. É quando a gente começa a franzir o rosto ao bater do sol, na nossa janela.
E assim vamos tocando a vida e a janela. Entre a margem e o rio, entre o calor e o frio. Agora tem mulher, tem filhos, contas pra pagar, dor de cotovelo, dor de cabeça, razões para lembrar. Tem emprego, desemprego, tem altos e baixos, tudo a ver.  Lágrimas que secaram, outras a escorrer. Amigos que se esqueceram, professores que passaram. Contas que se perderam. Amores que se acabaram. E segue a vida e a janela do tempo. É o nosso oceano – é a nossa seara.
Agora é sessenta, setenta - plena “idade da razão”, a janela lá em cima, é tempo de pés no chão. Já tem filhos ou tem netos, cada qual sua versão. Uns tocando certinhos, outros na subversão. E segue a vida, encontros e desencontros, seja na volta, seja na ida. E lá cima, a JANELA DO TEMPO a contemplar a nossa vida. Sim porque a vida é provação e a provação é a vida!
Aí... vem a casa dos oitenta... dos noventa... quando vem! A esse ponto muitos que já tiveram seus divórcios decretados; casamentos multiplicados, filhos e pais separados. Muitos que se foram; que tiveram suas janelas fechadas, suas luzes apagadas, sua páginas viradas. Outros que insistem: correm, caminham, exercitam-se. E nesse meio de caminho tem emendas, coronárias, tem safenas; dor disto, dor daquilo. Cabelos brancos, passos lentos, não pode isto, não pode aquilo. Muitos que vão devagar. Outros até mesmo sem o caminhar.
A esse ponto, o tempo vai escurecendo e o sol da vida vai concluindo a curva na linha do horizonte. É como se, na distância, o sol da nossa vida vá se encontrar-se com a linha do nosso chão.  E bem assim somos nós! E a gente quase nem enxerga o mundo ao redor. Às vezes mal se dá conta. E assim se vai fechando... fechando... o círculo, o ciclo da vida... a nossa JANELA DO TEMPO.

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- Este texto eu mando para uma unanimidade que se chama LIVALDO FREGONA, a quem já li, reli e “treli” no seu livro “O CAÇADOR”. Mando também para LEONILDO/Mercantil Avenida com a recíproca do apreço que revela a estes... CAMINHOS POR ONDE ANDEI.