A RESPOSTA DA NATUREZA

Final de ano. Tava de férias escolares na casa paterna, nas encostas do meio do mato ao deserto, naquele casebre de caminho único, sem um vizinho por perto. Os viventes que apareciam por lá ou era um eventual trabalhador a serviço, ou um cavalo fugido ou um “desaconçoado” dono à procura do seu animal.

A esse tempo, o serviço diário era com um lago que a gente não enxergava a outra margem e que a profundidade “encobria um homem de mãos pra cima”,  uma expressão que significava o superlativo de qualquer coisa. Ainda assim, naquela vidinha com minha mãe e meu pai por perto, sempre cobrando obediência e tarefas - eu era feliz e não sabia.

Pois bem, nesse quotidiano serviçal, um lazer era “caçar” um cacho de tucum pelo mato, um ananás lá adiante, um cacho de juçara nas alturas e à beira do quintal. E nessas empreitas tinha sempre marimbondo, toco, formiga de fogo, espinho. E, na “panha da juçara”, aí era onde morava o perigo. Lá em cima o vento batia e a juçareira fazia meia-curva. Olha o perigo!

Lá em cima a agente fazia promessa para Santo Expedito que pagava-se quando chegava-se ao chão, riscando palitos de fósforo.  Não raro, formiga descontava o incômodo e a gente descia ralando o peito na juçareira.  Tinha sempre uma “flerpa” esperando, mas ainda assim a gente tirava de letra. Lembrança que o tempo não conseguiu apagar.

Numa dessas férias, já de plano feito ainda na cidade, imaginei como até hoje costumo imaginar ”facilidades” -  que poderia apanhar um cacho verde de coco babaçu. Para comê-lo todinho com a irmanada. Já cheguei de “cálculo pensado”. Não deu outra! Eu mais velho, chamei um deles e lá vamos nós. E imaginei sem pensar que encontraria baixinho e fácil um cacho de coco verde. Depois era só quebrar e... comer.

Ah meu caro, nem queira saber! Fomos entrando mato a dentro procurando o ouro, procurando e... nada. Os cachos que os encontrava ficavam nas alturas, lá em cima. Tudo difícil, sem chance para o bisaco. A certa ponto dei de cara com um cacho que ficava a meia-altura, só uns quatro metros. E decretei: é este aqui! Havia uma jovem árvore ali por perto que ali se chama “pau”. E então fiz um trepeiro, usei uma vara e me pus a cutucar aquele cacho de coco. Um trabalhão danado. “Por mal dos pecados”, como diria o meu pai em situações essas – caiu um único e solitário coco. E nada mais.

E do distante meio do mato, voltei para casa frustrado com aquela “caçada” e trabalheira toda que enfim não deu em nada. E, ainda assim, cheguei em casa, quebrei  e... comi as amêndoas daquele bendito e único babaçu, uma tarefa que enfim não deu em nada. Mas como me ensina a lição: “em tudo daí graças”, ganhei a experiência...

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Como que se a vida estivesse a me dar uma lição em capítulos, eis que seis meses depois, nas outras férias, imagine onde fui parar? Debaixo daquela bendita coqueira! E pude ver que aquele cacho de coco estava tão íntegro o quanto lá deixei, sem cair um só. Estavam  secos, grudados, lá em cima. Aquilo me deixou em profunda interrogação. E fui embora sem nada mexer, questionando-me sobre o quanto acabara de ver. Ainda assim não dei a lição por concluída e... fui embora.

Tempos mais tarde, seis meses, um ano depois acho que de mera intuição e para concluir a lição, voltei sem razão, àquela mesma coqueira. E para surpresa minha, vi novamente que aquele cacho de coco nas alturas estava tão íntegro como deixei quando ainda verdes - só que agora estavam velhos, apodrecidos. Não caiu nenhum. Estavam todos lá. Lá em cima, no cacho, no mesmo lugar. Fiquei deveras impressionado, cheio de interrogações.

Era esse o “emparreado”! Uma expressão do meu lugar: Um fruto que não cai; um fruto que se perde lá em cima. Uma frustração, seja por obra do homem, seja por conta da natureza. Enfim: um “aperrear”, um “empacar”.

E aprendi então que a NATUREZA, a SANTA MÃE NATUREZA, me deu uma bela e silenciosa lição: que não devemos mexer com o indevido, tampouco com as suas leis, com os seus princípios. E que na natureza cada tempo tem o seu tempo e aquele tempo ainda não era tempo, muito menos  o meu tempo. E mais de meio século se foi e até hoje a lição. LIÇÃO DA NATUREZA que em mim permanece.