GENTE QUE FAZ
Lá vai ele com a sua bicicleta-cargueira. Daí a pouco, noutro lugar, lá está ele com a sua inseparável bicicleta-cargueira de sempre. Parece onipresente. Está em todos os lugares, diariamente. Suas idas e vindas sobre a sua cargueira é a costura do seu serviço. É a saga diária pelo seu ganha-pão. Seu nome é TRABALHO!
De janeiro a dezembro; inverno e verão sempre com a mesma simplicidade, com a mesma disposição; a mesma cara-de-sempre; com a humildade que Deus lhe deu, com a tolerância que lhe é peculiar. Assim é WALLACE BERNARDINO BEZERRA FIALHO – Wallace para o mundo ao redor e “PIXOTE” para os íntimos, é GENTE QUE FAZ.
Filho de velhos jequitibás, madeira de âmago qual o ouro e a prata forjados ao fogo – VICENTE BERNARDINO BEZERRA FIALHO (que Deus o tenha) e Dona JOSEFA PEREIRA FIALHO – ZEFINHA - aos 89 anos lúcida e orante por todos os filhos, netos e bisnetos que os cita pelos nomes. WALLACE, ainda que tenha passado por altos e baixos na vida, de origem e família modesta, pode declarar-se consagrado: “nasceu em berço de ouro”.
WALLACE é o segundo (mais velho) em meio a dez irmãos, todos vivos, à exceção de Nadir. Pelos incidentes da vida é natural de Manaus-AM, onde seu pai foi trabalhar em comércio ribeirinho, pelos rios Tapajós, Amazonas, Madeira, Negro, Solimões. A família, ainda pequena, vivia dentro de um barco. O menino “quase nasceu” dentro do barco. Do signo de libra, ainda criança só saía de casa por orientação da avó-materna, dona Maria da Conceição, depois de ouvir o Horóscopo no rádio.
WALLACE é casado com a mesma e única esposa, D. MARIA RODRIGUES FIALHO, sua “prima legítima”, faz 40 anos. Tem três filhos e reside num antigo endereço à Rua Godofredo Viana, ao lado da UEMA.
“Antes da fama”, WALLACE passou por diversas experiências de trabalho. Foi ajudante de topógrafo (uma velha profissão do PRÁTICO que era o seu pai). Foi ajudante de pintor de cemitério; vendeu pão, banana, laranja, entregador de marmita, vendeu “água de pote” na estação do trem no seu Coratá-MA, e lá mesmo emendava o serviço carregando malas de passageiros, para o hotel - um trocado que dividia com sua mãe, DONA JOSEFA, num período em que o velho pai, VICENTE BERNARDINO, “batalhava pelo mundo” para retornar só dois ou três meses depois.
Conta WALLACE que nessa batalha na estação do trem, vendendo “água na bilha” e carregando malas, teve a parceria do irmão BYRON BERNARDINO – hoje médico conceituado local. Num desses momentos, BAYRON, o irmão, dirige-se a um passageiro, oferecendo-se para carregar as malas e levá-lo a um hotel. Foi quando ali, inesperado, identificaram-se como PAI E FILHO e ambos abraçaram-se emocionados. WALLACE relembra essa passagem com um sabor de lágrima nos olhos!
Revela WALLACE, tranquilo e pacato, que trabalhou no Banco do Brasil durante 35 anos. Começou na função de contínuo, depois “auxiliar de serviços gerais” e conclui seu tempo de serviço em “carreira de apoio”, sempre sobre uma bicicleta-cargueira. E que por todo esse tempo, diz ele, nunca teve um dia de falta ao trabalho. Hoje WALLACE está na sua sétima bicicleta cargueira. Já lhe roubaram cinco delas.
Aposentado do Banco do Brasil, presta serviço terceirizado junto ao referido banco. Desde que aposentou-se até a presente data, faz nove anos. Vai diariamente, pela manhã, à casa de sua mãe, prepara o café para a sua matriarca, depois chegam outros irmãos para a confraria matinal, em família. E despede-se após o CULTO DOMÉSTICO.
Sessenta e nove anos de idade, trabalha desde antes dos dez anos e orgulha-se de falar “a verdade e somente a verdade.” Esse cristão, que não se separa nunca-nunca de sua cargueira; pé no chão, que está sempre em serviço – WALLACE Bernardino Bezerra Fialho é GENTE QUE FAZ.
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