VELHO CHEQUE - QUEM TE VIU! QUEM TE VÊ!
Era uma vez o cheque. Cresceu a partir de um "relacionamento internacional" denoninado LEI DE GENEBRA, no ano de 1931 - o cheque já nasceu grande, poderoso e veio ao mundo para dominar em meio às elites endinheiradas - no que àquele tempo já se poderia dizer: "coisa do primeiro mundo".
O cheque era um sheik, um sultão, um nobliárquico rei das astúrias. Um nobre com acesso e assento em todas as cortes. Respeito, moral, valor, prestígio. Assim era o cheque! O cheque era cercado de solenidades e formalidades por todos os lados. Desde o emitente ao sacado (ao favorecido). Nominal ou ao portador, cruzado ou não o cheque era...O SENHOR CHEQUE. E, mais do que um senhor, um titular da nobreza por vezes ao acesso de poucos - tanto para emitir quanto para o favorecimento, tal o mundo fechado e estrelado que o rodeava.
O cheque era personagem construída a partir de um ritual: caneta azul; letras em "caligrafia" ou datilogradas; assinaturas índenes de dúvida; lastro ao fundo para suportar e garantir o pagamento. Dar ou recebr um cheque não era coisa vulgar, muitos menos para qualquer um. Então o cheque tinha uma aura forte que muitos sequer sonhavam em acessá-lo. Uma jóia que despertava o "glamour". E até mesmo para o seu cruzamento, transversal, usava-se uma régua para garantir o paralelo das linhas bem traçadas. Era assim o cheque!
Face ao meu primeiro emprego no serviço público, anos 60, recebi um talonário de seis cheques, da CAIXA, no tempo em que a Caixa era só uma Caixa. Senti o peso da reponsabilidade ao emitir um cheque para receber o meu próprio pagamento. Aprendi e contive-me a essa época a manter em conta sempre o equivalente a um salário para garantir a provisão de fundos na emissão da cártula. Sentia-me um "privilegiado", "o senhor dos anéis". E em meio aos meus cento e tantos colegas da Casa do Estudante, quiçá só eu tinha um talonário de cheques! Imagine a responsa! O peso do compromisso!
O mundo deu voltas, tantas voltas e comecei as perceber que o cheque fazia a curva do declínio, nos seus proprios horizontes. Já não era mais aquele; perdia vestiginosamente o prestígio, a aura de coisa séria; perdia o valor. E de um certo sujeito, ouvi tantas vezes uma frase sobre "... um Banco Farra Velha", (referindo ao bairro da baixa prostituição local), tal a desmoraliação, o descrédito dos seus cheques. E o que se viu daí por diante foi a "avacalhação" do cheque. O cheque então tornou-se objeto do preconceito. Um título AVACALHADO. Esculhambado, desmoralizado.
Narra a lenda da vida real, que em terras de um planeta chamado Mercadinho, um livre comércio local, ali venderam-se ou vendem-se "folhas de cheque", dez reais, quinze reais... Também clonaram, forjaram, falsificaram o cheque e outros tantos escroteios a que o lord das astúrias, enfim, veio de ser submetido.
Continuando nessa queda livre e avacalhado, o cheque arrasta-se ao chão. Hoje qualquer boteco, loja, shoping, mercearia, açougue, posto de combustíveis, padaria, proxenetas, cafetinas, garotas de programa, travestis, bebum-de-cachaça e outros do ramo, - tem sempre uma advertência: NÃO ACEITAMOS CHEQUE. Este é um réquiem pela morte, velório e sepultamento de quem um dia foi rei e que acabou abandonado, miserável e indigente: "Velho cheque, quem te viu, quem te vê?!"
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E A NOTA PROMISSÓRIA?
Prima pobre do cheque (é)ra a vestusta NOTA PROMISSÓRIA. Enquanto o cheque tinha uma fabricação especial, ordenada, rigorosa - de titularidade mais-que-seletiva, a promisória era feita na tipografia da esquina, vendida aos pacotes de R$1,99 mas com a empáfia de uma cor amarela de brasilidade, ao fundo. Já nasceu avacalhada, coitada. Muitos dos seus emitentes não sabiam nem mesmo como preencher uma promissória. E outros que delas se tornaram tititulares, costumavam ter apenas... "uma promissória" que por si só já era um titujo fajuto, peso-leve, desacreditado.
Tinha gente que preenchia com "vinte sacos de aroz"; "dez sacos de milho", "cinco cabeças de gado" e outros créditos assim. Outros que não preenchiam com data de emissão ou de vencimento. Um crime da mala! Pois que, criada por lei, a Promissória ainda que "prima pobre" no mercado do crédito tem suas formalidades legais e não permite tamanha distorção ou vulgaridade.
Também arrastando-se ao chão qual o cheque seu distante primo rico de outrora, a Nota Promissória, tanto quanto o cheque ainda vagueiam por aí, quais uns fantasmas do descrédito. E em seus lugares, recuperando o elo perdido, nasceu faz tempo, o CARTÃO DE CRÉDITO, e, sobre este, o imediatismo do CARTÃO DE DÉBITO. O Cartão de crédito nasceu seletivo e, como o cheque, exclusivo também para gente endinheirada. Saiu do camarote, foi para as cadeiras numeradas, depois para as arquibancadas e agora para as gerais. Todo o mundo tem um cartão de crédito!
E como a bandidagem campeia no mundo e no Brasil do Oiapoque ao Chui, o Cartão de Crédito é outro vetor a serviço do crime, tais as fraudes, a clonagem e os embustes que se praticam em torno do Cartão de Crédito. Chega a ser estarrecedor! Notícias dão conta de que cartões de crédito que mal acabam de ser emitidos, logo são clonados, falsificados - quais os empréstimos sobre as aposentadorias dos velhinhos.
* Viegass quetiona o social.
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