Hoje eu não escrevo. Indolente, a veia não pede, não quer. Por isso, hoje reproduzo apenas textos que os mandei para o Programa CLUBE DA SAUDADE - Mirante/AM, DOMINGOS, oito da manhã, na minha crônica PÁGINA DE SAUDADE. Um texto que se completa com a canção, como, aliás, bem assim tem sido ao meu estilo, na crônica do rádio.
VELHOS TEMPOS - BELOS DIAS!
Hoje eu acordei lembrando daquele tempo, um velho tempo. Um tempo do qual, aliás, estou sempre revivendo, relembrando, reconstruindo na mente, costurando - aquele tempo. Tempo da minha juventude, dias idos que eu lembro de coração sentido, partido... Um tempo que não volta mais. Tempos de colegial - secundário, vestibular, faculdade. E a moça da Escola Normal. Esse tempo - um tempo em que era feliz e não sabia, meus anos dourados de um dia. Mão na mão, braços dados - ora passos lentos, ora passos apressados.
Camisa listrada, sapato em meia. Nove da manhã, dez do dia cinco e meia. E eu ali, um barco como o meu símbolo e esperanças do amanhã, correndo na veia. Rua do Passeio, Casa do Estudante, Cine Eden, Rua Grande e a gente ali, olhando vitrines, jogando conversa fora. Parada de ônibus - João Paulo, Monte Castelo, São Pantaleão, Magalhães de Almeida. Abrigo Velho, Abrigo Novo, Igreja da Sé, Desterro, Pedro II, Praça João Lisboa... E eu ali, olhando no tempo, dinheirinho apertado, mas numa boa. Rampa do Palácio, Praia Grande, Beira-Mar - tudo retrato e caminhos meus. Sonhos, aspirações, devaneios. Primeiro emprego e os anseios.
Nos sábados, FESTINHA nos bairros, na casa dos outros. Baladas inocentes daqueles dias, um tempo que se fez em nostalgia. E eu ali. O romantismo estava em alta. Jerry Adriany, Paulo Diniz, Vanderléia, Roberto Carlos e tudo o mais. E os discos CBS com as suas 14 MAIS. Velhos tempos, belos dias, um tempo em que a minha mãe vivia. Um tempo que não volta mais... nunca mais!!! Um tempo tão inocente e olha a canção que tocou pra gente!!! (A Garota do Baile - Roberto Carlos).
DIANA
E então havia uma música que tinha um quê. Que me tocava... que eu gostava e não sabia o porquê. O tempo passou, a gente se perdeu. Lá se foi ela e lá fui eu... pelos caminhos afora, pelos desvãos da vida, cada qual para o se norte, cada qual na sua sorte.
Tantos anos se passaram e a gente - a música e eu - voltamos a nos reencontrar. E quando dei por mim... estava lá... a cantarolar... a lembrar, a reviver, a relembrar... Anos 60 e eu estava no internato da minha eterna Escola Técnica Federal, no Monte Castelo. Naquele imenso rio, aquele oceano que passou em minha vida... essa paixão que não acaba nunca... nunca... nessa minha lição de vida vivida.
E na amplificadora do internato tocava uma canção... Uma canção que eu, garoto, nem me tocava para essa emoção. Uma canção que eu nunca imaginava que ela... um dia... tocaria, sacudiria as cordas do meu coração... na reconstrução desta PÁGINA DE SAUDADE. (Música: DIANA - Carlos Gonzaga).
TEMA PARA MINHA MÃE
Ainda me lembro daquele segundo domingo de maio, Dia das Mães!!! Era um dia de sol, de céu azul, e eu caía na estrada rumo a Imperatriz, para continuar a vida - num momento em que pensava que era para recomeçar a vida. Tudo coisa do destino e da vida. Parada em MIRANDA. Alma sofrida, coração apertado, sentimento ferido. E eu ali... desgarrado e perdido...
Era Dia das Mães! E, naquela parada de ônibus, o sentimento de quem viaja para um mundo desconhecido e uma música que lancetava o meu coração - "FLOR MAMÃE". Haja dor! Isso faz, hoje, exatos 40 anos!!! Quarenta anos daquela passagem, sentimento de dor e miragem. Quarenta anos em Imperatriz!!!
Mais tarde, tantas vezes conversei com a MINHA MÃE sobre aquele momento lá em MIRANDA e a viagem rumo ao desconhecido que se fez Imperatriz. E aquela música "FLOR MAMÃE" que tocava. E a gente cantava junto. E aí vinha a lembrança do céu azul, daquela manhã de domingo em alma sofrida, coração apertado, desgarrado, sentimento ferido.
E minha mãe me ouvia entre silêncio e lágrimas para em seguida LOUVAR A DEUS por tudo isso. Hoje eu olho no tempo, o filme que ficou na mente e revejo tudo agora de repente. Vejo a minha mãe que se foi; ouço lições que ela deixou, lágrimas que ela derramou. Revejo aquele domingo de céu azul e eu perdido - bem ali, 40 anos. (Música: FLOR MAMÃE).
PARA LEMBRAR 40 ANOS ATRÁS
Essa Majestade - toda nossa - cidade de Imperatriz completou, no último dia 16, 161 anos de história, de vida, de resistência e vitórias. Isto aqui é terra e um povo vitorioso, vencedor!!! Queria prestar-lhe uma homenagem, mas fiquei na multidão. E então me contento em lembrar e relembrar uma passagem de 40 anos atrás, quando cheguei nesta cidade. E olho e ouço tudo por inteiro, como se fosse agora. Rostos, pessoas, lugares e a saudade da Ilha que ficou lá longe... saudade da juventude que ficou para trás; dos colegas, dos amigos, da rua que não volta mais... da garota que nem vi mais.
Chegar em Imperatriz, em 1973, foi enfrentar um cavalo bravo, um touro bravo ou, como se dizia: um leão por dia!!! E fui morar numa república de quatro cômodos. Por vezes vinte e tantas pessoas na casa!!! Brincadeiras, bandalheiras, essas coisas de rapaz. Um tempo que não volta mais.
- Na noite rolavam trotes, banhos de água gelada em quem chegava na madrugada. Da Farra Velha, do Mangueirão, do Cacau. E todo mundo fingia que dormia. A rede pendurada em uma linha era uma armadilha e a queda ao chão. Olha o palavrão! Ao sábados, tinha uma festa, dançava homem com homem na boa, na brincadeira. E, para sentar... não tinha nem uma cadeira. E a gente levava a vida no arame... na esperança... de que um dia, sem tardança, a bonança viria. Olha a música que tocava no baile da rapaziada, naquela época fazendo aqui esta página de saudade (Música: Forró do Tio Augusto - Luís Vieira).
* Viegas questiona o social
Edição Nº 14759
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