Aprendi, nos embates da vida, que "nunca é tarde para ser feliz". Tive a intenção de mandar o/s textos/s abaixo, justo para o dia DIA DAS MÃES (domingo passado) mas... por um ledo equívoco, deixei de enviar. E, como "nunca é tarde para ser feliz", sai agora.

ERA DIA DAS MÃES

AMANHÃ, segunda-segunda feira de maio, completo exatos quarenta (quarenta) anos de céu, ar e chão em Imperatriz. E digo aos meus pares que viver aqui por quarenta anos, para mim, é diploma, é "caneco", é honra, é joelho ao chão para agradecer aos desígnios do Criador. Não tenho título de honraria desses que se fazem por aí - ora por conivência ora por conveniência - mas sinto-me tanto quanto SOU um cidadão desta cidade. Um "pleonasmo" a que me permito.
Chegar e pisar aqui em maio de 1.973 tem, para mim, um sabor acri-doce entre a lenda e a realidade; entre o calor e a brisa ou como dizem outros: "dá um livro". Ou como sempre disse: "...era Deus escrevendo certo por linhas tortas, na minha vida", um dizer que, aliás, aprendi com o meu velho e pranteado pai. E daquele maio de 1973, quarenta anos passados, são detalhes que guardo na memória e sei de cor. E ainda posso ouvir naquele domingo, coração apertado, trancado, alma ferida - aquela música que cantou para gerações "Flor Mamãe" com José Leão. Lembra? Era manhã de domingo, Dia das Mães, naquela parada em Miranda do Maranhão, lá pelas nove do dia!!! E tantas vezes, recordei essa passagem em verbo vivo com a minha mãe - DONA LOLA - hoje um pranto de saudade que eu a revejo na minha mente. Sempre! Inclusive naquela colher, que me deu presente.
Para louvar, mimar e a modo meu homenagear esta MINHA cidade, meu céu e meu chão, este amado e amante dedica-lhe sempre um texto por conta do aniversário de "quando cheguei por aqui". São textos diversos que já os publiquei no rádio, no jornal e na TV. De revivendas essas, transcrevo aqui uma página que foi publicada faz sete (sete) anos, nestes... CAMINHOS POR ONDE ANDEI, porém de olho naquele domingo de quarenta anos idos quando... era dia das mães.
ERA EU CHEGANDO AQUI

Quando cheguei nesta cidade, este chão tinha um aura de garimpo, tal o movimento desordenado, a dinheirama que se ostentava e o poeirão que cobria  os ares. Grileiros, pistoleiros, dinheiro falso, devedores enrustidos - e entre eles dedeveres de banco e da justiça, vindos do Brasil e mundo a fora. Madeireiros, arrozeiras. E pululavam forasteiro, aventureiros, casa de mulheres e música dor de cotovelo pelos bares da cidade a qualquer hora e à luz do dia, inclusive. Predominava por aqui, em meio à periferia, desse "garimpo", as CASAS DE TÁBUA. De tábua mesmo! Mas nem só de "casas de tábua", vivia o lupanar da cidade. MANGUEIRÃO, CACAU, PRETA, BOÊMIO, CORSÁRIO e outros faziam a gandaia de A a Z. E ainda me lembro de rostos e nomes (delas) famosos que marcavam e demarcavam o território.
A esse tempo, logo encontrei nomes (palavras), muito usuais por aqui e que me chamaram a atenção: SIÁ: abreviação de SINHÁ, uma corruptela de SENHORA. Era um termo usado no período da senzala, com que os negros tratavam suas patroas. Na linguagem local, SIÁ era uma tratativa dos meios domésticos, vicinais e amistosos na ala feminina, entre jovens-colegas ou vizinhas de mediana e mais idade. Também aqui conviveu-se com a palavra LAMBRETA, que significa(va) chinelo de dedo. E como noutras terras "lambretta", é(ra) um motociclo que antecedeu à motocicleta, os estrangeiros ficavam  se contorcendo  diante da linguagem.
Havia também vendas a varejo no "PRATO" - como objeto de medida. Dessas que aconteciam nas ruas, nas feiras, a céu aberto. O PRATO é um indicativo antigo e sertanejo de medida e equivale a DOIS LITROS. E como os estrangeiros não conheciam O PRATO como medida, a turma regurgitava e se contorcia com o substantivo. Eu, ao contrário, achava legal e já sabia que aquela quantidade implicava em "dois tantos" - quer dizer: dois litros.  E então, bota prato nisso!!!
Mas a palavra que deixava meio mundo tonto e que resplandecia como um raio para todos os lados, era a presença física e o adjetivo feminino, SENDEIRA. Sendeira era uma adjetivação muito frequente. Caiu em desuso. Significa(va) na linguagem popular, mulher separada; mulher que não tinha marido. E, de conseguinte, mulheres livres e... dispostas a propostas. Por conta de situações essas as SENDEIRAS roubavam a cena e tornavam-se figuras das atenções senão objetos de desejo. As SENDEIRAS convertiam-se num perseguido alvo de caçadores e predadores e outros mal-feitores. E, embora livrando-se de uns, eram "abatidas" por outros. SENDEIRAS sempre foram um alvo acessível, vítimas de livres-atiradores. Ainda assim, rufiões de todas as matizes como que procuravam na aterra, no ar e em toda parte, rastros de SENDEIRA  - tal o "feitiço" com que a espécie sempre enevou o universo dos héteros. SENDEIRAS não existem mais. Quer dizer: existem mais ainda!
Eu que não perco a raiz, liguei o vocábulo SENDEIRA a um cavalo de montaria e trabalho, bom de carga e de estrada que lá para as minhas bandas chamam-no de SENDEIRO. Sendeiro pois quer dizer: caminhante, viageiro, esperto e disposto a longas estradas. Nesse devaneio vocabular também pude ver que o substantivo SENDA indica um caminho, uma passagem, uma travessia. E o suporte a longas caminhadas. E foi assim que entre caminhos, estradas, travessias e passagens melhor pude compreender a palavra SENDEIRA. Quer dizer: de SENDEIRA nunca entendi absolutamente nada. Ademais que tudo isso trata-se de livre interpretação.  (risos...)
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E hoje, quer dizer, amanhã (segunda-segunda feira de maio)  quando completo exatos QUARENTA (quarenta) anos de vida e chão por aqui, é hora  de louvar a DEUS e agradecer e cada vez mais respeitar e honrar e valorizar esta cidade e este chão que se edifica ao sal e luz e dos homens de boa fé. Justo aqui onde disse tantas vezes que "esta é a terra em que Cristo pisou com suas sandálias". Obrigado Imperatriz. Obrigado pelos meus quarenta anos ao teu peito e ao teu leito.  Muito obrigado! E a oportunidade agora de relembrar aquele meu "tormentoso cálice", quando... "era dia das mães".

* Viegas  outrora "forasteiro", agora radicado - questiona o social.