“ME ENGANA QUE EU GOSTO”
(Um folhetim de ficção. Será? Será.)
“Qualquer semelhança é mera coincidência”, advertem os folhetins. Aqui não é diferente. Gonguey é um cara que sabe das coisas. Sabe de tudo e muito mais! Conta o Gonguey, assim um tanto “desaconçoado” que certa noite ele teve um sonho – um sonho de um sonhador. Até que ele não foi assim tão original, pois que a frase foi cunhada de uma música de um tal “Maluco Beleza”. Lembra?
Conta Gonguey que lá em cima, na Corte do além-mar, descobriram que lá em baixo, nas Barracas, na Freguesia da Capitania Hereditária, aquilo ali tava uma zorra em maracutaias e tramóias e precisavam botar ordem no terreiro, quer dizer no galinheiro. E então mandaram para as Barracas, na Capitania Hereditária um Visconde com diploma de datilografia e anéis de safira. Enfim, o senhor dos anéis. E chegou lá nas Barracas da Freguesia com carta branca, poderes de fazer e desfazer, casar e batizar. E botar ordem no galinheiro. Qual um Marquês de Pombal, com poderes até para expulsar os Jesuítas.
O poder, você sabe, afoba os empoleirados. E que o Visconde não imaginava era que no suspeito-desordenado galinheiro tinha um NINHO DE COBRAS. Cobra cascavel! Chegou lá com cara de poucos ou “nenhuns” amigos, carta branca na manga e pôs-se de mero observador. Nada não! Era só para tirar uma onda e manter a moral porque quem chega pra botar ordem no galinheiro não pode lá ter cara de bonzinho nem esbanjar simpatia. Era sapato alto mesmo! De saída, e bafejado pelos seus alcagüetes e informantes que os levara debaixo do braço, eis que sem mais nem menos e sem demora “passou a régua” nuns três ou quatro? E mandou-lhes plantar batatas...
Era aí que aquele Visconde, carta branca, sem colete a prova de bala, quer dizer sem EPI e sem segurança à prova de ataque e veneno de cobra cascavel, se deu mal. Amanheceu no paletó e anoiteceu com a boca cheia de formigas. Assim... aos olhos e ouvidos de todos. Ao vivo e em cores. E foi aí que o mungunzá azedou, o coração parou, o sangue da boca escorreu e a Freguesia estremeceu! E haja botar a Guarda Civil da Metrópole à caça dos bruxos. Tava tudo em cima da terra. Sabe aquela do gato que tenta enterrar e não enterra nada? Foi o que aconteceu! E haja xilindró para segurar os bruxaos e manter a moral da Capitania. E nessa pandemia esqueceram o galinheiro que ficou de orelhas em pé... Olha o rebu que se abateu sobre tudo aquilo ali!!!...
Tempos depois, fizeram a contabilidade: uma das bruxas fugiu da masmorra graças a fragilidade do xilindró e da guarda civil, com a ajuda de um Dublê Guevariano. Outras bruxas nem mesmo fizeram parte do montante, não deu tempo. E os outros tantos foram julgados pela Corte dos Bedéis Paroquianos. Um deles, do carro placa vermelha foi enfático: não tenho nada a ver com isso, tava só fazendo um frete para o meu “de comer”. O outro, filho de papaizinho, neto de vozinho e sobrinho e neto da tiazinha um cara fechado e trancado, viveu e sobreviveu a todo essa pandemia em plena lacônia (lacônico). Qual o guerreiro espartano: podia até ser espetado mas não abria o bico? Pois é! E tudo o que disse foi uma coisa só: Não sei, não vi, não tava lá. E o “CONÇELHO PAROQUIANO” acreditou. Até porque nessa época, assim como farmácia se escrevia com PH, conselho se escrevia com C cedilhado. Coisa da língua e suas mudanças...
E o resultado desse romance é que as bruxas, todas, saíram-se bem, que é como disse aquele “sexual de periferia”: “Melhor se dá neste mundo quem melhor sabe mentir”. Os que escafederam-se, escafederam-se. Os que passaram por debaixo da porta, passaram por debaixo da porta e os que foram a julgamento pela Corte dos “bedeis paroquianos” esses foram pras cucuias palitar os dentes e rever a banda passar, ate porque passaram um tempo à toa na vida. Lembrando que “bedéis” é o plural de bedel. E BEDEL é um servidor menor, por exemplo: um vigilante, um contínuo. Algo como um “ordenança”, na linguagem fardada de outrora.
Pronto! Tava o filho de papaizinho, neto do vozinho, inteiramente livre das amarras e da masmorra e ainda por cima com um diploma de INOCENTE a toda prova. Liberto que fora pelos “Bedéis Paroquianos”, ao martelo do JUIZ-SUPLENTE. Nada não! Era papaizinho, vozinho e tiazinha, por debaixo dos panos mexendo com os pauzinhos. Afinal você sabe que “mexer com os pauzinho”, demite Ministro, demite chefe de Serviço Secreto, faz impedimento de presidente e até nomeia Ministro da Toga Preta. Pelo menos era assim no tempo das Capitanias. E hoje?! Hoje?! CRUZ CREDO, CREDO EM CRUZ!!! Hoje é como diz o Gonguey; “Se eles não tem vergonha, eu tenho vergonha por eles.
Agora é um novo capítulo dessa resenha. Te lembras daquelas apresentações do circo de elefantes e leões em que a certa altura do espetáculo, acendiam-se as lâmpadas suspendia-se o espetáculo que era prá vender pipoca, maçã enfeitada, algodão doce e outras guloseimas? Pois é! Agora, filhinho de papaizinho, de posse de um DIPLOMA DE INOCENTE e, portanto de “VÍTIMA”, é hora, novamente, de papaizinho de filhinho; de vozinho do seu netinho e tiazinha do seu sobrinho queridinho, novamente, mexerem com os pauzinhos. Mexer com os pauzinho você sabe nomeia até Ministro da Toga Preta, né não?!
E então papaizinho, vozinho e tiazinha, mexendo com os pauzinhos foram lá em cima, lá na cabeceira do rio-mar e falaram com o PAPAIZÃO, que era amigão de Papaizinho. Aquele que devia a este um milhão de considerações. E, “considera$$ão”, você sabe, paga-se com “considera$$ão”. E, prá encurtar a estória – que qualquer folhetim desta vida tem espaço marcado, deu no que deu: Filhinho de papaizinho e netinho de vovozinho, recebeu de volta tudo, tudo, tudo a que tinha direito” com juros e correção e aumentos ... Uma bolada!!! E ainda por cima um estridente e tonitruante diploma de INOCÊNCIA. Taí no que dá mexer com filhinho de Papaizinho e com os pauzinhos, cuja mexida e como sempre no reinado, nomeia até Ministro da Toga Preta! Cruzes!!!!
Música de ilustração do folhetim: Eu gosto, me engana / Me engana, me engana, me engana/ Que eu gosto, que eu gosto. Depois veio aquela outra: Iaiá, ô Iaiá/ Minha preta não sabe o que eu sei / O que vi nos lugares onde andei / Quando eu contar, Iaiá, você vai se pasmar / ... ... ... // Foi aí que o tal garoto / Coitado do broto, encontrou com o Caveira / Tomou-lhe um sacode, caiu na ladeira / Iaiá, minha preta, morreu de bobeira... E o povão saiu do circo iluminado - mastigando chiclete, comendo pipoca e lembrando das palhaçadas dos palhaços e... da “artistagem”, dos artistas... ... ...
-ABRE PARÊNTESE: Foi só um sonho do Gonguey, o sabe-tudo do reinado, primo-irmão do bobo da corte.. FECHA PARÊNTESE
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