NO BANCO DA IGREJA

Tava querendo mesmo era escrever um texto que logo denominei ALTO LÁ! E o desfecho era para me referir que enquanto nas igrejas de outras denominações os fiéis comportam-se ao silêncio da atenção e das meditações e do ambiente solene em paletó e gravata e decentemente trajados. Já, na minha IGREJA CATÓLICA, o liberalismo, quer dizer o libertário vai ganhando terreno. Certas pessoas dão-se ao desplante da “conversa fiada”. E ficam  num falatório, num zum zum zum, blá-blá-blá, e ao DESRESPEITO.  Outras que vão desnudadas como se fossem para a nossa Beira-Rio. E já tem outras que vão de  short, como se fossem para um jogo de futebol ou até mesmo para o “corredor da folia”.  ALTO LÁ!

Eis que estou na igreja. Católica, é claro! E ali uma parentela composta de avó filha e netas. Elas estão sempre ali, aos domingos. E, pelos casuais da vida sentamo-nos sempre perto uns dos outros. Não por nada – mas  porque como nos bancos escolares  e bem assim na igreja, costumamos ser sedentários quanto aos “nossos lugares”. É ou não é? Pois é!  E então estou ali, de olho e de ouvidos na pregação do Senhor Padre. De repente, mãe e filha à minha frente, engatam num converseiro. E esticam na boca miúda. Aí, quando dou por mim a minha concentração na pregação foi pelos ares. E, quando dou por mim estou chateado. E mãe e filha seguem naquele bate boca abafado, aquele ti-ti-ti dentro na igreja, na hora da Santa Missa – quiçá longe de conceberem que  aquela parlapatice é de toda inconveniente.

No outro domingo estou lá, no meu lugar de sempre. A trupe familiar chega. Avó, filhas, neta e neto. Segue a Santa Missa. De repente a parentalha entra no papo. Agora entre a filha e a neta. Falei comigo: “Tá danado, tanto lugar para esse povo conversar e vem conversar justo aqui dentro a igreja”.  Naquele outro domingo, como sempre, estou eu naquele mesmo lugar. A Santa Missa já vai adiantada e... para  o meu alívio aquela parentalha não havia chegado. Respirei aliviado. Ledo engano. Daí a pouco o grupo chegou. E tome ti-ti-ti, e tome zum-zum-zum e tome blá-blá-blá. Aí eu fiquei pensando: 24 horas por dia; sete dias na semana, 365 dias no ano e esse povo tem a vida toda para conversar, bater-boca, fazer lá seus mexericos e vem tagarelar aqui dentro da igreja?! É como diria o nordestinense: “Arre égua!!!”

Naquele  outro domingo o grupelho em família não compareceu. Não estava lá. Aí eu pensei: hoje é o meu dia de  paz. De repente à minha frente, senta-se um jovem  casal. Tive a impressão de que a jovem esposa, uma loura, lábios grossos, batom extravagante,  deve ter passado a semana inteira, o mês inteiro longe do maridão e então, justo ali na igreja, durante a Homilia, era ali, a hora de “botar o papo em dia”. E tome ti-ti-ti e tome zumzum e tome blá-blá-blá. Ela batendo boca e ele na retranca, calado. E eu ali no sofrimento, querendo lamentar.  Aí eu me perguntei: “será uma cruz”? E então refleti que a palavra de Deus nos ensina que não devemos renegar a nossa cruz; devemos sim carregar com humildade, com resignação – justo a pregação que o Senhor Padre fazia naquele dia. E então refleti que aquela lição era para mim. E então  tomei posse e não mais lamentei. 

“Não deixando uma coisa pela outra”, como da antiga linguagem do meu velho pai, eis que certa feita eu estava absorto e entregue num encontro católico-carismático. Pregação nas alturas, auditório lotado! E bem ali à minha frente, um pouco ao lado um grupelho de uns quatro jovens, do tipo colegial. Ali sim: um papo seguro, absorto, troando a todo o vapor, na boa entre eles, como se estivessem num recreio colegial. E eu, onde é que ficava?! Fui lá, na moral e abri o verbo: “querem bater papo, futricar,  o lugar não é aqui, vocês estão no lugar errado”.  Repreendi. E fechei a cara. Santo remédio: o papo acabou. Mas aí... a minha mulher  ficou pê da vida comigo.

E como o papo é mexerico e converseiro, essa é boa! É boa??? Solenidade de entrega de Título de Cidadão. Outubro de 2.016. O auditório do Palácio do Comércio, estava lotado até na tampa, tanto assim que teve um “agraciado” (uma palavra que rolou solta, mas até que poderia ser “homenageado”),  que referiu-se aos seus amigos como estando “...lá no fundão”.  À frente uma “ala” com cadeiras reservadas para os “agraciados”. E, bem ao lado, uma ala  de assentos que me pareceu fosse destinada aos familiares dos “agraciados”. E eu lá, na minha, também “agraciado”, de paletó e gravata mas, como sempre, vestido na camisa do questionador do social, olhando no mundo em volta, com lápis e papel nas mãos para as anotações de um ”repórter” que existe dentro em mim.

Ainda nem havia começado o expediente oficial e um fedelho ali na ala do que imagino fosse para os “familiares dos agraciados”, iniciou um chororô, um zuadeiro. Até parece que a sua “representação legal”, ou estava surda e mouca ou não estava lá. E nem aí para o berreiro e perturbação do seu fedelho. Moleque chorava, descansava o choro e engatava de novo. Tornava chorar, tornava descansar e tornava engatar o zuadeiro. E a “representação legal”, surda, mouca e muda, nem aí. E o povo ali, que se danasse futebol clube. E a solenidade ali, dominada pelo moleque e a omissão e a indiferença do seu futebol clube. 

E nos supermercados? Aí moleque bagunça, deita e rola, quebra, espreme as frutas, machuca, esculhamba e papai e mãe feitos do mesmo barro, nem aí. Ou, quando muito, simulam reclamar aos seus rebentos: “Menino, não mexe com isso”. E o menino nem aí. Por essas e por outras que um cara que tem a minha cara, costuma dizer que: “Se cada um se comportasse no seu lugar, o mundo não estaria do tamanho que está”! Ninguém conversaria na igreja e o moleque  ia mijar no caco.

Este texto não se direciona à quem quer seja. Sendo assim é um indireto, quer dizer, uma indireta. Na sua hipotética malha estão os hipoteticamente bons e os hipoteticamente maus. Uns à direita outros à esquerda. Onde quer que você esteja, põe a carapuça em tua cabeça, antes que algum aventureiro lance mão dela. O que, aliás não é nada original pois que D. João VI, em 1.808, faz mais de dois séculos, já orientava, nesse tom, ao seu infante, D. Pedro I, que cumpriu regiamente.