“EU TE CONHEÇO CARNAVAL !!!”
(Texto que compõe a minha crônica PÁGINA DE SAUDADE que está há mais de doze anos cativa no programa CLUBE DA SAUDADE, Rádio Mirante AM – São Luís, domingos, este há mais de trinta (30) anos no ar. Edição de 23 do corrente, em cadeia com mais de trinta emissoras em todo o Estado, além de outra/s voluntária/s fora do Estado. Tema adaptado (editado, acrescentado) para esta edição nestes... CAMINHOS...)
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Lembra desse bordão? “Eu te conheço carnaval”!!! Velhos tempos aqueles tempos dos bailes de carnaval em clubes populares que se espalhavam pela cidade, durante o Reinado de Momo. João Paulo, Monte Castelo, Anil, Fátima, Caminho da Boiada, Fabril. E outros tantos por aí. Os bailes de máscara eram uma cultura, um costume do social – coisas de uma época dessa minha São Luís, capital.
Bigorrilho, Maracangalha, Gruta do Satã, Clube dos Sargentos e Subtenentes “Clube do Hermelindo”, Clube da Boa Vontade, este no Bairro de Fátima, e tantos outros - foram marcas que marcaram o carnaval de São Luís que um dia denominou-se o terceiro carnaval do Brasil! Os bailes populares, muitos deles eram animados por conjuntos musicais – música de sopro: trombone, trompete, saxofone e tudo o mais, além da percussão, é claro!
Outros, porém, eram animados ao som mecânico das músicas em toca disco - as famosas radiolas. Era o tempo do rodó (do lança-perfume). Uma “cheringada”, quer dizer um porre de rodó, deixava o sujeito pra lá de bagdá. Em princípio era permitido, vendia-se abertamente, até em prateleiras do comércio. Vi isso. E só mais tarde tornou-se proibido. Lembra-se você do Rodó? Da sedução e da tentação que era o LANÇA PERFUME? Com aquele aroma inebriante e sedutor e tentador que pairava e dominava no ar! Muitos, naquela badalação, não se continham e misturavam o rodó à cerveja. Haja coração!!!
As mulheres, maduras como sempre livres para voar – inclusive para máscara usar. Umas que punham máscara inteira outras em meia-máscara. E volta e meia por entre as mascaradas, alguém conhecia alguém ou ainda que na onda ou no blefe, soltava o bordão: “eu te conheço carnaval!!”. Conhecendo ou não conhecendo, era o contágio da folia, o calor da alegria – era assim o carnaval! E a mulherada sem banda e sem lado, em meio a tantas culpadas - casadas, solteiras, viúvas ou divorciadas - escondiam-se mascaradas. Lembrando esse tempo, logo veremos um misto de culpa e inocência na nossa capital. Pura gandaia – coisa e lousa e coisa tal - nos bailes populares de carnaval. Afinal, no carnaval, era como se dizia: “Tudo é carnaval”
Mas não eram só os homens que insinuavam-se às mulheres com a frase “eu te conheço carnaval”. As mulheres também piscavam ou correspondiam com a mesma frase. E todo o mundo, na onda, “naquela base” !!! E o certo é que, no vai e vem do bordão – conhecendo ou não, muitos amores do trivial, lero-lero e coisa e tal - descobriam-se ao verbo do... “EU TE CONHEÇO, CARNAVAL”.
Esse cenário na capital se fez por um longo tempo até a época de uma prefeitura que acabou com os bondes, que também acabou com MÁSCARAS DO CARNAVAL Me lembro dessa época: o povo chiou e não achou nada legal. E isso contribuiu para esfriar o carnaval e até mesmo alterar a rotina futura do carnaval e sem mais demora acabou aquela onda de “terceiro carnaval do Brasil”.
Enquanto a música troava no salão em múltiplos cômodos, uns dançando; outros enchendo a cara, máscara em rosto inteiro ou a meia máscara, certo é que... no chamego... e no vai e vem da movimentação... e ainda com um porre de rodó que pulsava mais forte o coração, o grande assédio, a tentação, era o pedido para levantar a máscara. E o aceite de ainda que discretamente (às escondidas) levantar a máscara e mostrar o rosto... era fatal! Lero-lero e coisa e tal! E logo estava escrito: “era amor de carnaval” que a esse tempo zombava-se: “amor de carnaval termina na Quarta Feira de Cinzas”.
Hoje o carnaval se estende pelo ano inteiro. E no ano inteiro folia, tem “rodó”, transfigurado no álcool e outras drogas. Tem Cinzas. E os rastros das Cinzas costumam ir parar nas Delegacias de Polícia, na justiça, nos cemitérios, nas pensões de alimento, nas investigações de paternidade, nas cadeias, nas brigas de marido e mulher, nos descontos dos salários, nos problemas sociais, nos contágios, nas venéreas e nos buchos adolescente ou não que se multiplicam na noite a noite e nos dia a dia por aí. E todo o mundo conhece todo o mundo nas pândegas do carnaval a vida toda e o tempo inteiro. E nem precisa mais levantar as máscaras porque as máscaras há muito que se fazem e se desfazem entre caídas e levantadas. E haja carnaval o ano inteiro e a vida toda no país do carnaval!
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