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GAFIEIRA - Os Bailes Daquelas Tardes

Texto que escrevi para o programa CLUBE DA SAUDADE, Rádio Mirante/AM, domingo, oito da manhã, em cadeia com mais de 30 emissoras em todo o Estado do Maranhão,  na minha crônica PÁGINA DE SAUDADE, há 12 anos, no ar. De lembrar que ao fim de cada leitura, há sempre uma ou duas músicas que adaptam-se ao texto.

A mente da gente tanto guarda quando expõe mistérios insondáveis que o homem  - penso eu – jamais será capaz de desvendar essa incrível e indecifrável criação do CRIADOR. Tava eu assim... meio que de cara pra cima à procura de um pretexto para fazer um texto para esta PÁGINA DE SAUDADE. Foi quando me lembrei de um tema que publiquei aqui em julho de 2.010. Bem ali!!! ... Faz só dez anos. (Faz só dez anos) a que dei o título de OS BAILES DAQUELAS TARDES.  Eram as famosas GAFIEIRAS. Lembra dos bailes de Gafieira? Velhos tempos!!!

Dizia assim: ABRE ASPAS: Na minha terra – em São Bento, na Baixada - tinha duas amplificadoras. Então as amplificadoras anunciavam: “Atenção, atenção dançarinos!!!!...” e anunciavam uma festa (um baile), que se realizaria naquele próximo domingo à tarde.– ora no bairro do Codozinho, ou São Benedito. 

Lá pelas cinco da tarde as pessoas (os dançarinos) começavam a passar, rumo à festa anunciada na amplificadora. Os homens em chapéus-de-sol (guardas-chuva), calças em linho-acetinado, engomadas, sapatos engraxados! Era um tempo de TERGAL, da cassimira, do linho-puro! Camisas em tricoline, trajes de festa! As mulheres vestidas em seda e tafetá, saias rodadas  batom nos lábios e sapatos a meio-salto; Era o tempo do corpete e sutiã. Eu era um garoto e ficava vendo aquilo. FECHA ASPAS

Muitos daqueles bailes eram amimados pelo conjunto de Seu Nogueira, em instrumentos de sopro. Seu Augusto executava a tuba (aquele instrumento grandalhão que tem uma boca grande, com caráter de percussão). Conhece, não é não?! Tote Padilha tocava trombone. João-Goma, tocava bateria. Badé tocava clarinete, Seu Nogueira, o líder tocava pistom, Bide que seguiu ao pai, tocava saxofone. Tetê que também fazia malabares ao pandeiro, era o cantor. Antônio Costa Leite compunha a orquestra com o seu pistom que tinha uma surdina adaptada. 

Conforme a partitura, ora punha a surdina, ora retirava a surdina. E você lembra da surdina que dava um tom especial nos conjuntos  musicais em instrumentos de sopro?  Era bem ali com piston, surdina e tudo, que se desenvolvia o baile. O baile de gafieira, com os pares em dança, dando voltas no salão. Eu era  então um garoto e não estive lá. Ainda assim, posso imaginar que aqueles bailes daquelas tardes, feitos em música de sopro, pistom e surdina e Tetê - eram os chamados VESPERAIS, que começavam nas tardes e esticavam ao cedo da noite. Era a opção de um lazer também saudável. Mulheres livres também estavam livres para curtir, zoar, dançar...

Entre uma dança e outra, rolava uma cerveja, um assédio e mais outras cervejas. As mulheres tomavam Martini, vinho tinto. Chique, né?! E todo o mundo “calibrado”, para poder calibrar. Outras vezes, porém, com uns e outros “calibrados” com a mulherada dando sopa, e todo o mundo cheio de razão, era aí que rolava o perigo!!! Por vezes pintava uma encrenca, um chega-prá-lá, uma confusão. E aí rolava um sopapo, um pontapé, um pescoção. Tudo no pé, no braço e na mão”  Aí chegava a turma do deixa-disso: deixa-disso, deixa-disso e acabava a confusão. 

Hoje, pela engenharia da mente, eu lembro da GAFIEIRA  daquelas tardes, lembro dos músicos e do instrumental que compunham o ritual. E relembro a amplificadora: “Atenção, atenção dançarinos, “Atenção, atenção dançarinos”, lembro  Seu Nogueira tocando o baile, Tetê com o seu vozeirão e seu pandeiro; lembro Antônio Costa Leite com o seu pistom e surdina e reescrevo esta PÁGINA DE SAUDADE. Este texto eu dedico a quem se lembra dessas lembranças e faz dessas lembranças, o seu baile de saudade.

Música: Pistom de Gafieira (composição: Milton Carlos).
Na gafieira segue o baile calmamente /  Com muita gente dando volta no salão /  Tudo vai bem, mais eis porém que de repente/  Um pé subiu e alguém de cara foi ao chão////  Não é que o Doca é um crioulo comportado /  Ficou tarado quando viu a Dagmar /  Toda soltinha dentro de  um vestido saco / Tendo ao lado um cara fraco, foi tirá-la pra dançar /////  O moço era faixa preta simplesmente /  E fez o Doca rebolar sem bambolê /  A porta fecha enquanto dura o vai não vai /  Quem está fora não entra/ Quem está dentro não sai / Mas a orquestra sempre / toma providência / Tocando alto pra polícia não manjar / E nessa altura como parte da rotina / O pistom tira a surdina /  E põe as coisas no lugar