GRAVADOR: QUEM TE VIU!!! QUEM TE VÊ???
Escrevo, já disse aqui, textos que os envio para a Rádio Mirante /AM, São Luís-MA, domingos, oito da manhã, programa CLUBE DA SAUDADE, em cadeia com mais de trinta emissoras em todo o estado (consoante anuncia o programa), no qual eu pego carona, janela e prestígio, faz doze anos (doze anos), com a minha crônica PÁGINA DE SAUDADE.
Na linguagem do rádio, a crônica é um “quadro” dentro do grande programa que vai das cinco horas às nove horas da manhã e está há trinta anos no ar. Ocorre, todavia, modéstia à parte, que a crônica página de saudade deixou e deixa de ser um “simples quadro” para se tornar uma atração, um “espetáculo” dentro do programa, até porque, após a apresentação de uma interpretação impagável do inigualável apresentador JOSÉ SANTOS, desfila em seguida uma, duas e até três músicas que adaptam-se (acasalam-se) ao texto. Daí a atração, o espetáculo. Vejamos por exemplo esta, na música abaixo:
GRAVADOR: QUEM TE VIU!!! QUEM TE VÊ???
O gravador já teve os seus dias de glória, o seu reinado. A sua grande presença no mundo do uso e do consumo e objeto de desejo de muitos marmanjos por aí. Eu, testemunha em causa própria, que o diga. E, quantas vezes perdi o sono por causa do gravador - ora porque queria Possuí-lo e não conseguia possuir. Ora porque engripava, amassava e rebentava as fitas, quebrava correias e outras tantas que o levava para o técnico, para o conserto.
Ainda moleque, colegial, eu quisera ser “locutor de rádio”, tinha uma paixão, uma fascínio pela profissão. Por conta disso, vaguei pelos corredores das rádios AM, então existentes. Aí comprei um gravador e vivia fazendo testes de locução. E exercitava a minha vocação como “locutor noticiarista”. E haja gravador!!! Você lembra do gravador???
De velhos tempos, o gravador já foi moeda de negócio e de troca. Ao tempo áureo do gravador, por aqui (lembro-me bem), qualquer negócio que se prezava, tinha sempre um gravador como parte do pagamento. Comprar um terreno, uma TV usada, uma bicicleta, uma geladeira, tinha sempre um GRAVADOR pelo meio, como parte do pagamento. Conheci um cidadão que desapareceu desta bandas - um amigo das minha saudades que um dia me disse: “três coisas derrotam o homem; uma mulher por conta, um lecho na perna e um gravador de pilha média. E concluía a suas frase: “já tive os três”. Hoje eu tenho saudade desse amigo que não sei por onde anda e se ainda anda! Mas não esqueço da sua frase.
Gravadores famosos, que eu diria “PESO PESADO”, foram aqueles do tipo “gravador de rolo”, um gravador grande, recursos tecnológicos de ponta, da época - que eram usados como equipamento das emissoras de rádio-difusão. Eram gravadores profissionais que costumavam ser utilizados no DEPARTAMENTO DE NOTÍCIA; estes de uma gravação de qualidade - enfim um modelo altamente profissional que não se prestou às sandices das negociatas dos gravadores comuns.
Em época do famoso Garimpo de Serra Pelada e outros garimpos do Pará, tais como: Redenção, Maria Bonita, Itaituba, Crepori, Peixoto do Azevedo esta Imperatriz foi um portal - de entrada e saída dos garimpeiros. E muita gente ia ou voltava por aqui. A esse tempo, as negociatas do GRAVADOR, atingiram a sua maior alta; isso porque os garimpeiros - que se tornaram “os novos ricos” do momento, gostavam de ostentar um “sonzão”, um gravador - grande, possante, com luzes, duas caixas de som, fita cassete e muita música “dor de cotovelo”. Era comum até a agente ver “os novos ricos do momento”, com um gravador ao ombro, desfilando e esnobando o poder de compra e do vil metal, através do GRAVADOR. Hoje o GRAVADOR, está reduzido a mero “lixo eletrônico”, jogado a um canto, esquecido, abandonado, entregue às traças. Imprestáveis e inservíveis.
Dia desses e somente dias desses eu parei para ver a anatomia, as vísceras de um gravador: a parafernália enlouquecedora de peças, engrenagens, correias, placas eletrônicas, transístores e uma profusão de componentes nele existentes. E só ali a minha vã imaginação me permitiu assimilar porque o GRAVADOR, essa máquina de um milhão de complicações – que reproduz vozes e sons, já foi objeto de sonho de consumo e moeda de troca. Hoje, porém, é apenas um lixo eletrônico relegado ao abandono, jogado às traças ou... simplesmente ignorado.
Mas a vida é mesmo assim: E tudo por aqui, sobre a face do chão é princípio meio e fim. E nessa minha insanidade, revendo no tempo, o GRAVADOR, sua utilidade e suas perversidades, é como escrevo esta PÁGINA DE SAUDADE. Este texto e a música a seguir (que tantas vezes tocou no gravador) eu dedico aos resistentes garimpeiros que realimentam agora o sonho perdido e suas perspectivas de reabertura dos garimpos e do sonho do ouro e da riqueza.
Música: Aventureiro Garimpeiro – ROBERTO VILAR
... ... ... Aqui é só tristeza mando te dizer paixão / Sou um aventureiro garimpeiro do sertão /Aqui é só tristeza mando te dizer paixão /Sou um aventureiro garimpeiro do sertão (Solo) //// Eu sou garimpeiro, eu sou nortista / Soy latino americano da boca do Amazonas / Aqui é só tristeza mando te dizer paixão / Sou um aventureiro garimpeiro do sertão / Aqui é só tristeza mando te dizer paixão / Sou um aventureiro garimpeiro do sertão //// Ôh São Francisco, ôh São Francisco, vou pra São Francisco / Ôh São Francisco, ôh São Francisco vou pra São Francisco (2x)
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