Dez da noite, feriado de Primeiro de Maio. O celular toca. Era o CAPIJUBA,  que eu o trato respeitosa e afavelmente por “Seu Capijas”, meu Embaixador e Representante junto ao Jornal O PROGRESSO, para fins do aviventamento à minha lembrança ao cumprimento da  publicação desta coluna, nas radiantes páginas deste pioneiro O PROGRESSO. Noutras Palavras; seu Capijas é o guardião, sagrado e consagrado na vigilância pelo cumprimento do meu dever  junto a O PROGRESSO
 
E eu que naquele feriado, estive indolente e “relaxado” à falta dos meus “companheiros” de trabalho que faltaram comigo, já fui despertando com o despertar de Seu Capijas, este que, assim como outros companheiros, em tantas outras oportunidades também se esqueceu de mim. Mas agora é outro dia, quer dizer, é outra noite. E então “bola cheia” para o Seu Capijas, com o seu vozeiro por vezes íngreme de compreensão, com essa lembrança com sabor de cobrança e com o refrão de quem dita como guardião: “tem que mandar, tem que mandar”.
 
CAPIJAS, porém, naquela ligação às dez da noite, estava longe de saber que mexia comigo, que bulia  de forma saudável e agradecida com os meus sentimentos, meus princípios, minha formação, meu caráter. Porque, a cada edição, mandar esta coluna para o Jornal é, para mim como realizar um sonho de rapaz, de colegial, qual na composição dos meus primeiros madrigais. E a despeito disso, posso dizer que tenho incontáveis textos:  uns perdidos, outros dormidos, outros esquecidos, outros retorcidos, outros não concluídos que eu os relaxei e deixei-os abandonados  à própria sorte – qual a fartura dos limões do terreiro do meu avô, espalhado pelo chão, na minha criancice, quando eu olhava para aquela aquarela e não me dava conta de que era feliz e não sabia. 
 
E então, SEU CAPIJAS,  agora eu vou  qual a CHALANA de Sérgio Reis que tão longe se vai /  “contando o remanso do Rio Paraguai”. E,  nessa viagem como que numa tarrafada do insigne colunista Nelson Bandeira, pego o meu último texto que fiz para o Rádio na crônica PÁGINA DE SAUDADE, e vou aqui espalhando pelo chão quais os limões dos limoeiros do quintal do meu avô, no tempo em que, como dito; eu era feliz e não sabia.
 
O RETRATO DO MEU AVÔ
 
Era manhã cedo de domingo. Eu havia acabado de sair da Santa missa com a esposa-companheira. E fomos bater na padaria do supermercado. Enquanto ela cuidava do pão tradicional de domingo, para o café que se mistura com o CLUBE SAUDADE, eu me punha a bisbilhotar a prateleira de utilidades em plásticos e similares, cultivando os costumes e a saudade da minha mãe. Em seguida, fui bater nas gôndola de frutas. Maçã, goiabas, maracujás, banana. O ambiente, o cheiro, me faz lembrar um velho tempo das feiras livres de João Paulo e Monte Castelo. Feira livres de tantas frutas que me escravizavam pelo desejo sem ter e sem poder.
 
E então é tempo de LIMA. ou como dizem: “lima doce”. De cara com a bandeja das limas, fui assaltado pela força e pelo rompante  do pensamento. Lá estava o retrato do meu avô, a cara do meu avô, o sotaque carregado do meu avô que até hoje  eu-neto lembro, para cultivar a sua memória. Foi um momento traumático aquele ali no supermercado, na bandeja das limas,  de cara com a cara do meu avô!!! Aquele meu velho ídolo de que mais do que seu neto, eu me tornei seu fã.     
 
De velhos tempos,  em volta da  casa do meu avô, havia um sítio frutífero: À frente um laranjal, lado direito mangas e tangerinas, lado esquerdo, um limoeiro  com tanto limão pelo chão, mais para trás um banal, pés de caju, goiaba mais adiante, ingá, a mangueira de manga rosa e... projetando um dos galhos quase para dentro da cozinha,  ali estavam duas limeiras carregadas e amareladas de tantas limas (lima doce), a fruta do meu avô. A fruta que quase só ele dava valor.
 
A gente moleque, invadia mais pela laranja com um sabor cítrico mai intenso, ao passo que a lima tem um sabor mais salobro,  menos forte, menos cítrico. E, para mim, naquela época,  assim um tanto sem graça, inclusive com variações amargas. E já naquele tempo eu me perguntava por que o meu avô, tinha a LIMA, aquela fruta sem graça, como a sua fruta preferida. Eh! Mas ele também tinha uma laranjeira, para as suas laranjas doces, somente ao final da safra. E a minha avó, fiandeira, cozinheira sua esposa e eterna companheira era a guardiã de tudo aquilo ali.
 
O tempo e tanto tempo se passou e por volta dos anos oitenta quando por aqui plantei um sítio com tantas laranjas e goiabas e cajus, e mangas e outras variedades, também cuidei de plantar, próximo de casa,  dois pés de lima (lima doce), para lembrar e homenagear e reverenciar a memória do meu avô. E assim, por conta de resgates esses, a LIMA doce, tornou-se a minha fruta predileta, tanto quanto era assim do meu avô. Justo ele   que pelos seus exemplos, seu caráter,  sua palavra,  sua luta de pés no chão e caçador, mais do que seu neto  (seu primeiro  neto), eu me tornei seu fã, de rochedo e com fervor. E com louvor!!! 
 
E então, era domingo. E então é tempo de LIMA. De cara com a bandeja das limas, no supermercado, fui assaltado pela força, pelo rompante  do pensamento. E lá estava o retrato do meu avô, a cara do meu avô, os costumes do meu avô; o sotaque carregado do meu avô que até hoje eu, seu neto, cultivo memória e sei de cor. Foi um momento traumático aquele ali no supermercado, na bandeja das LIMAS, de cara com a cara do meu avô!!! Sim porque tudo o que me veio do meu velho DOCA BARROS, eu guardo na memória e sei de cor e mais do que seu neto eu me tornei seu fã.

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