AH SE O MEU FUSCA FALASSE!
Eu vou contar pra vocês um trecho da minha vida. É que nesse vai e vem da vida, tem um cara que teve a capacidade (a capacidade) de marcar a minha vida. Se avexe não, foi aquele meu FUSCA AZUL, safado, bandoleiro, pé de pano, malandro e garanhão. Ele mesmo, uma bala de prata que não perdoava uma gata. Era assim ele, meu tremendo FUSCA ZUL - lá em cima AZUL da cor do céu, cá embaixo, AZUL da cor do mar. Sagitariano, nascido na primavera de 1975, Guerreiro e mulherengo até a última gota! O cara era uma fera e só faltava falar! Ah se o meu fusca falasse!!! Mulhereeengo! Um carnívoro inveterado e implacável! Um carcará irresistível, sanguinário e indomável. E ali, sim, era “pega mata e come”! Sabia de segredos in-con-fes-sá-ve-is. Ah se meu fusca falasse!
Nos seus devaneios era festeiro, passava a noite no sereno da festa no clube e quando eu menos imaginava ele – o fusca - saía rumo aos abatedouros da vida. E como ninguém é de ferro, chegava lá, um banho pra suavizar, conversa fiada pra começar, duas, três cubas libres pra calibrar e haja festa na tribo até o dia raiar. Um dia eu cheguei pra ele e falei: “Manera, cara. Esse negócio de “caçada e carne viva” todo dia, isso não dá. Procura regime, te guarda. Cê sabe que mulher é como o vinho: é gostoso, mas embriaga”. Ele ficou me olhando... com aquele par de olhos brilhantes, tipo Fafá de Belém, aquele jeito sedento / de carnívoro e faminto eternamente / como quem diz: “Tais me estranhando, Clemente?” .
Pois é, me arrumava uma encrenca atrás da outra. Ora porque dava linha cruzada, ora porque tinha nega que chegava lá e não queria mais sair de lá; queria ficar pra morar. Outras que vinham para o almoço e ficavam para o jantar. Depois ficavam pra dormir e não queriam levantar. E nessa vida de malandragem, quando dava por conta era alta madrugada, tava na hora de voltar. Teve até nega que convidou: “vamos casar”. E lá vai ele, cara amassada, despenteado, desalinhado, esculhambado. E ele jovem, com todo potencial, abusava do seu material e subia a ladeira: engatava uma primeira, uma segunda e, na banguela, até uma terceira...
O cara era cheio de manias, vou te contar! Chegava, parava, entrava. E pra sair???... era uma trava. Tinha uma identidade IZ-3374, aí montava por cima, ficava por baixo e deixava só os trapos, porque deitava e rolava, comia toda e se lambuzava. Tem mais: se começasse um blá-blá-blá, aí, só depois do motor esfriar. Ele não mandava recado, ele mesmo ia lá. E pra pegar o caminho de um matagal? Fiz tudo pra tira esse costume. Era um animal! E se engatasse numa conversa, querendo montar a peça, ai era como o meu pai: ACABOU A PRESSA! E então ele teve a quem puxar, ora essa!
Esse cara tem história que dá um livro! E assim como aquela música diz que “uma noite não é nada”, aqui também “uma página não é nada”. Ele tinha um hábito terrível: Tinha 10, 12, 15 namoradas! Era um encantador: “pegava a fêmea e arrastava, pendurava como carne no açougue e desmontava. Ele foi o maior carnívoro das Américas, terror das empregadas, das telefonistas, advogadas. Solteiras, desamparadas e divorciadas, umas amadas, outras mal amadas outras tantas abandonadas, solitárias e até acompanhadas. Esse cara não pensava em nada. Só queria gandaia, dormir por lá e voltar de madrugada. E eu sempre advertindo: “Essa tua vida não dá em nada”. Esse cara tem história que dá um livro, porque uma página...? Uma página não é nada! Ah se esse cara ao menos pensasse!! Ah se o meu fusca falasse!!
Olha que isso aí é pura prosa e... no fundo, no fundo, mera propaganda enganosa. Este texto eu mando para mim mesmo. Não por nada! Mas é porque esse cara tem (ou tinha) a cara da minha cara, um sósia que encontrei por aí, depois que cheguei aqui, montado num pau de arara, pras bandas da Praia do Embiral, mas... se vacilasse, na pura classe, ele deixava o açúcar e passava o sal.
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