CARTA AO LEITOR:
Meu caro leitor (se é que você existe) – cordiais saudações.
Tenho a honra e o dever de dizer aqui que (bem ou mal), escrevo textos para o jornal desde os 21 anos. Estou aos 73 e então faça as contas. Aqui em O PROGRESSO, comecei em 1.973, quando a titularidade do jornal era do Sr. José Matos Vieira e fiquei até quando o jornal mudou para novas mãos. Por volta de 1976 (por aí assim), quando o jornal mudou de titularidade eu que cheguei a imaginar que era aceito e que dormi o sono dos justos, no dia seguinte vi que era simultaneamente um “patinho feio” em meio a cisnes brancos e um “intruso no ninho”. Logo me tornei uma carta fora do baralho e... “caí no colonião” que era como dizia a “peãozada” por aqui.
O jornalismo, no entanto, estava como está no meu sangue, nas minhas veias, na minha cabeça e no meu coração - o que descobri e comecei a praticar aos 21 anos. Com a minha debandada de O PROGRESSO, por motivo alheio à minha vontade, primeiro arrefeci os ânimos e, por algum tempo, não me interessei às lides do escriba. Mais tarde, quando eu lia e absorvia a PARÁBOLA DOS TALENTOS, de que diz a Bíblia em Mateus 25, 14-30, vi então que estava “enterrando os meus talentos” e precisava voltar a escrever, porque a veia que pulsa em mim me cobrava, me exigia, me estimulava – como bem assim um dia foi o exercício da escrita da máquina de escrever, na minha vida – uma abordagem que já fiz nestas colunas.
Enterrados os “talentos”, tempos depois, nasceu em mim, então, algo como uma “crise de identidade”, uma um vazio espiritual à falta da prática do exercício da escrita, no Jornal. Veio então, uma ansiedade para voltar a escrever e então tornei-me um “judeu errante”. Sem jornal, sem pátria! Era algo como diz DRUMOND em sua lavra: “... Com a chave na mão / Quer abrir a porta, / Não existe porta; / Quer morrer no mar,/ Mas o mar secou; / Quer ir para minas, Minas não há mais / José e agora?” Era eu o “judeu errante” que queria voltar ao Jornal - jornal do qual até hoje (até hoje), nunca ganhei um único centavo. Repetindo: nunca ganhei um único centavo, mas que voltar a ele, contudo me dá um sopro de vida, alegra a minha alma e nele – jornal – escrever, me dá uma sensação de janela, de sobrevivência, de liberdade. De porta da rua. E então, se “viver não é preciso”, como abraça Fernando Pessoa “escrever é preciso”, digo eu.
Pois bem, naquela sina de judeu errante, qual a canção de Lupicínio Rodrigues: “Você há de rolar como as pedras / Que rolam na estrada / Sem ter nunca um cantinho de seu pra poder descansar”, e então, voltei a bater ao jornal. Um editor de ocasião, um dia nos encontramos no banheiro de uma noitada por aí. Aproveitei o insólito da oportunidade e abri o verbo: “queria voltar ao Jornal”. Ele, “melífluo” me ouviu mas foi só isso, não deu em nada. Os tempos mudaram e mudou o editor. E então falei como novo chefe. Este mostrou-se receptivo - gastei o meu latim, mas foi só isso.
O meu pai e a minha vida feita de altos e baixos me ensinaram que “Deus escreve na nossa vida por linhas tortas”. Justo ELE em que “o tempo de Deus não é o nosso tempo”. Até que um dia... até que um dia encontro aqui pelo jornal, como o novo editor, o COLÓ FILHO, ele que houvera sido o meu colega no Jornal de Imperatriz, do José Maria Quariguasi, uma publicação que viveu seus dias e partiu para o infinito. E então falei com o Coló Filho e desfilei as minhas passagens na imprensa daqui e “das terras de onde eu vim”. Nem terminei de derramar as minhas catilinárias e COLÓ logo lembrou os nossos tempos de JORNAL DE IMPERATRIZ. Era como se me dissesse – simpático e receptivo – que já conhecia o meu “currículo”, a minha verve, qual o Prof. Arimatéria Cysne, em CENAS QUE FICAM de Wady Sauáia ao sabatinar o Professor Honório, de Carolina, em tempos de Vargas: “...não preciso perguntar; conheço de sobra o candidato”. E então, no dia seguinte, voltei a escrever em O PROGRESSO. Isso faz acho que uns quinze ou mais anos, ininterruptos.
Em princípio escrevia textos avulsos, sem denominação ou sombra de “coluna”. Mais tarde quando escrevi O OLHAR DO PÁSSARO SOBRE O GALHO, até pensei em ficar com esse título mas logo em seguida escrevi CAMINHOS POR ONDE ANDEI e com este me defini como o título desta coluna há mais de 15 anos, no Jornal, onde estou até hoje. Agora (como diria o meu pai): Escuta só, escuta só! Ultimamente tenho perdido o caminho do Jornal, tenho perdido a remessa, a oportunidade de enviar os meus textos, resultando nas omissões destas colunas em eventuais fins de semana, quando então publica o Caderno EXTRA, dos colunistas extra-jornal, na qual sou inserido.
Desejo então justificar-me diante dos leitores que eventualmente leem as garatujas desta coluna que não sou, nunca fui e JAMAIS haverei de ser um leviano, um relapso em meus compromissos; nas minhas tratativas, na minha PALAVRA. Logo eu que prego que “o homem é a palavra e a palavra é o homem”. E então tenho, por vezes, ultimamente, faltado ao meu “compromisso moral” com esta coluna, o que se dá por fatores meramente alheios à minha vontade, salvo, a bem da verdade, em “raríssisimas” ocasiões. Ocorre finalmente com diz a antiga canção de Jair Rodrigues em A brincadeira do Mundo: Perdi a fé, perdi a moça que eu amava / E a rua onde eu morava está tão longe pra voltar. É pois, nessa onda que eu perco a remessa do texto; perco o caminho e a publicação da edição e quando me dou por conta, o tempo passou (como passou o tempo de Carolina, na janela, de Chico) e tudo ficou para trás e não tenho como voltar.
Portanto, meu caro leitor (se é que você existe em algum lugar do planeta), se você notar que eu não compareci nem pontuei no CADERNO EXTRA da edição de sábado/domingo, acredite: eu sou fiel, comprometido, responsável e pontual com os meus tratos. E se “navegar é preciso”, como diz Pessoa, acredite: escrever esta coluna semanal, por vezes com o gosto amargo de quem gostaria de fazer mais e não fez, para mim, porém, “escrever é preciso”. Até porque, para mim, “a palavra é o homem e o homem é a palavra” E mais, como da velha canção de Jair: É... porque... “Perdi a fé, perdi a moça que eu amava / E a rua onde eu morava está tão longe pra voltar”- quer dizer: Perdi a remessa do texto, perdi o caminho e a publicação da edição e quando me dei por conta, qual uma Carolina de Chico, “o tempo passou na janela..”, tudo ficou para trás e não tive mais como voltar.
- Contando com sua compreensão, subscrevo-me comas minhas... cordiais saudações...
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