A viagem do ministro Blairo Maggi (Agricultura, Pecuária e Abastecimento) a cinco cidades da China e a Seul, na Coreia do Sul, gerou cerca de US$ 50 milhões em negócios nos setores de carnes, café, grãos e madeira. Também abriu caminho para investimentos no Brasil em agroindústria, infraestrutura e logística. Nesta entrevista, em Bangkok, na Tailândia, onde chegou nessa segunda-feira, 12 (fuso horário de Brasília), para cumprir mais uma etapa de sua missão à Ásia, o ministro fala das conquistas e suas impressões da viagem, que ainda incluirá Myanmar, Malásia, Vietnã e Índia.
Confira trechos da entrevista concedida à assessoria de comunicação do Ministério da Agricultura
Até o momento, que balanço o senhor faz da viagem?
Blairo Maggi - Antes de começar o roteiro pela Ásia, estive com o presidente Michel Temer na reunião do G20, na China. Ele tratou diretamente com o presidente chinês do aumento da importação dos nossos produtos agropecuários. O presidente Temer voltará ao país no ano que vem e tem trabalhado pelo entendimento. A China tem sido um parceiro estratégico para o Brasil e, neste momento de crise, precisamos contar com os nossos parceiros. É vital que aumentemos nossas exportações, porque isso vai gerar empregos e aumentar a renda dos trabalhadores. Também conversei com empresários chineses que participaram do seminário empresarial Brasil-China, em Xangai, e sinto que eles estão dispostos a investir no Brasil, porque o momento é favorável a eles. Na Coreia do Sul, tratei basicamente da questão da carne suína. O governo coreano deve liberar em breve a entrada do produto de Santa Catarina. O vice-ministro da Agricultura me disse que ,em dois meses, o Congresso deverá aprovar a importação e, em seguida, técnicos coreanos irão ao Brasil para a fase final de inspeção sanitária em frigoríficos. Quero que eles passem a comprar nossa carne bovina também. Meu maior argumento junto aos coreanos: vocês compram carnes do Uruguai, eles têm pouco mais de 3,4 milhões de habitantes. O Brasil tem 200 milhões de habitantes. Onde você vai vender mais carros Hyundai, Kia, smartphones, TV’s Samsung ou LG? No Uruguai ou no Brasil? Então, abram o mercado para nós. Apenas nessa primeira etapa da viagem à Ásia, fechamos negócios em torno de US$ 50 milhões em carnes, café, grãos e madeira. Além disso, abrimos caminhos para uma série de outras oportunidades, como a atração de investimentos em produção na agroindústria e em infraestrutura e logística.
Por que o senhor aposta no mercado coreano?
Blairo - A Coreia do Sul tem 50 milhões de consumidores, um PIB de US$ 1,5 trilhão e uma renda per capita de US$ 30 mil. Eles precisam comprar alimentos porque são do tamanho de Santa Catarina e não têm mais onde plantar. Além disso, a Coreia é um mercado aberto a produtos mais sofisticados, como, por exemplo, os cafés especiais. Eles têm mais de 60 mil cafeterias espalhadas. Trocaram o chá pelo café. O Brasil vende para um grupo de países que corresponde a 40% do mercado mundial. Podemos aumentar essa clientela.
Qual o papel do senhor nestas negociações?
Blairo - Meu papel como ministro da Agricultura é abrir as portas, facilitar as coisas, para que os empresários do agronegócio brasileiro possam ter acesso aos canais de venda e de negociação. São eles que irão fazer o corpo a corpo, identificar os clientes em potencial, vender. Por exemplo: nesta questão da carne suína, uma vez concluída a negociação com os coreanos, estaremos gerando mais empregos e mais renda em Santa Catarina, que é o que nos interessa. Mas quem vai cuidar de vender carne são os produtores. Em Xangai, fui ao maior mercado de carnes da região. Vi que eles compram carne bovina com osso de alguns países, mas não compram dos brasileiros. Esses ossos no Brasil viram farinha, que é vendida no mercado externo a US$ 200 a tonelada. Mas, se exportarmos a carne com osso para China, os produtores vão ganhar US$ 700 por tonelada.
Há preocupação desses países com o que o Brasil faz em relação ao meio ambiente, à produção sustentável?
Blairo Maggi: “Neste momento de crise, precisamos contar com os nossos parceiros”Blairo - Na China menos do que na Coreia do Sul. Um jornalista coreano, de um grande jornal econômico de Seul, ficou impressionado quando eu disse que nossa legislação prevê que os produtores preservem parte das suas propriedades. O Brasil tem hoje a agricultura mais sustentável do planeta. Tudo que o Brasil preservou em florestas equivale a 16 anos de emissão de carbono pelos Estados Unidos. Esta tem sido a contribuição do Brasil para a sustentabilidade do planeta.
Que diferença fez até agora viajar até os países e conversar diretamente com as autoridades?
Blairo - Muitas vezes a gente imagina que basta conversarmos de governo para governo que as coisas serão encaminhadas. Não é bem assim. A gente começa a entender que existem peculiaridades, questões políticas, que influem direta e indiretamente no processo. Na Coreia, por exemplo, está claro que a resistência deles em liberar a importação de determinados produtos é consequência da pressão de setores que temem a concorrência, como produtores tradicionais. Há ainda questões de política externa envolvendo outros países, como os Estados Unidos, maior vendedor de carne para os coreanos. O Ministério da Indústria, que representa os fabricantes de eletrônicos, quer avançar. Já o da Agricultura é mais lento. Na China, existem questões que podem favorecer o maior ingresso de carne brasileira, como atritos diplomáticos com a Austrália. Nós queremos que os chineses comprem mais produtos processados do Brasil, com maior valor agregado, e comprem mais carne. Temos que estudar quais contrapartidas poderemos dar a eles. A proposta inicial deles é que façamos parte do comércio em reais e yuan, o que é muito complicado e, para viabilizar isso, seria necessária uma engenharia financeira muito sofisticada envolvendo os bancos centrais.
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